Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Ajuda do governo não torna ações do setor elétrico atraentes

Distribuidoras podem perder até 30% da receita nos próximos meses

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A TV e a cafeteira da sua casa devem estar ligadas por mais tempo nos últimos dias, para aguentar o período de isolamento social ou acompanhar o eletrizante noticiário. Mas o aumento do preço da sua conta de luz não será o bastante para compensar o que fábricas e comércio parados deixam de pagar às empresas de energia elétrica.

Segundo o estudo mais recente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), os impactos do coronavírus no consumo de energia elétrica levarão a uma redução de quase 5% na carga sistema nos próximos cinco anos, em comparação com a projeção feita no início do ano, quando ainda não havia a pandemia no horizonte.

Dentro das distribuidoras, já se fala em queda de 20% a 30% da receita durante a recessão nos próximos meses.

A agência que regula o setor (Aneel), ao mesmo tempo em que proibiu o corte de energia por falta de pagamento e suspendeu o reajuste de preços em três estados, também liberou o repasse de R$ 2 bilhões às empresas de energia, como socorro para os tempos de crise.

Além disso, o presidente Jair Bolsonaro acaba de assinar uma Medida Provisória para que a União destine até R$ 900 milhões para isentar consumidores de baixa renda de pagar a conta de luz até junho.

A mesma MP 950 permite que o governo comece a estruturar operações financeiras para auxiliar as distribuidoras de energia.

Privatização de férias

A medida é emergencial, bem como tudo parece ser nos últimos dias. E um dos problemas de lidar com urgências é que elas furam a fila de prioridades, deixando o que é importante para depois.

É o caso da privatização da Eletrobras. Listado como prioridade pelo ministro da Economia Paulo Guedes, o projeto que prevê a desestatização da companhia fez sua morada na gaveta da Câmara dos Deputados, onde chegou em novembro de 2019.

A companhia segue se preparando para ir para as mãos do setor privado. Mesmo que adiado, o projeto ainda é uma bandeira do governo federal, que se vendeu como o tal “liberal na economia”, durante as eleições.

E o resultado da empreitada tem sido positivo para as finanças da Eletrobras. O último balanço, divulgado no dia 27, mostrou um expressivo lucro líquido de R$ 10,7 bilhões.

O valor é menor do que os R$ 13 bilhões de 2018, mas o presidente da empresa, Wilson Ferreira Junior, que a dirige desde 2016, afirmou a investidores que este é o “maior balanço da história da empresa”, levando em conta o aumento do lucro recorrente.

A fala otimista e a apresentação, no entanto, não mudam o cenário pouco animador a curto prazo que se desenha para o setor.

No caso da Eletrobras, 37% da receita vem do chamado mercado livre de energia, onde preços são negociados de acordo com a demanda. Nessa fatia, o risco de inadimplência em um momento de crise como o atual é alto.

Como o mercado livre possui contratos curtos, os pedidos de renegociação já estão chegando às mesas da Eletrobras e de outras geradoras de energia elétrica.

E esse risco é colocado, ou melhor, retirado do preço dos papéis das empresas. As ações ordinárias da empresa (ELET3), que começaram o ano vendidas a R$ 37,6, agora estão na casa dos R$ 24 (já falamos aqui sobre como o preço de mercado dela está bem abaixo do que valem seus ativos).

Ou seja: com o atual patamar de valores, o projeto de privatizar a Eletrobras emitindo novas ações para diluir a participação da União vai dar muito menos dinheiro para a empresa (e para seus acionistas) do que daria quando o projeto chegou ao Congresso.

Para quem comprou os papéis de olho numa valorização com a privatização, é melhor dar umas férias forçadas para seus planos.

Transmissão estável

Entre as empresas que compõem o Índice de Energia Elétrica, indicador do desempenho das ações mais representativas o setor, a que tomou o maior tombo em relação ao primeiro pregão do ano foi a Light, que caiu quase 55%.

No recém-apresentado balanço de 2019, a companhia demonstrou ter um lucro totalmente dependente da distribuição de energia, sendo a sua maior parte destinada a residências. Justamente quem vai poder adiar o pagamento de contas de luz.

A expectativa de alta inadimplência e de queda no consumo, mesmo com o pacote de apoio do governo às distribuidoras, dão “curto circuito” nas contas.

Analistas avaliam que, enquanto as distribuidoras já começam a perder dinheiro e as geradoras já veem o impacto da crise em seu horizonte, quem atua com foco na transmissão de energia sofrerá menos. É que algumas obras podem ser adiadas, mas a demanda não se alterará.

Previsões mais otimistas veem luz no fim do túnel e afirmam que ainda é tempo de resultados positivos para o setor, se houver uma retomada da produção a partir do mês que vem.

Ainda assim, não enxergam os ativos da energia entre os mais atraentes do mercado, neste momento de incerteza sobre um apagão econômico.

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