Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos

Popularização da Bolsa não aumenta o poder popular sobre o mercado

Ainda são os investidores estrangeiros, graúdos, que determinam a maré

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Antes de o meteoro do coronavírus atingir em cheio a Bolsa de Valores (em março de 2020), o número de CPFs no nosso mercado de ações era de cerca de 1,8 milhão. Hoje, a Bolsa se prepara para atingir os 4 milhões de contas abertas (só faltam uns 80 mil).

São 3,92 milhões de investidores com R$ 537 bilhões investidos, o que dá uma média de R$ 168 mil por pessoa, de acordo com dados da própria B3. Você já deve ter reparado no seu dia a dia no aumento da quantidade de pessoas que falam sobre o tema e acompanham o mercado.

Pois bem, esse crescimento do número de investidores e interessados no mercado tem aumentado a repercussão de outro aumento significativo: o do número de IPOs, apelido gringo para as ofertas iniciais de ações, e de follow-ons, que é quando as empresas que já têm ações na Bolsa vão buscar mais dinheiro no mercado, emitindo mais papéis.

Juntando esses dois tipos de ofertas, a quantidade de operações realizadas na Bolsa neste ano chegou a 64, o que é 20% a mais do que em todo o ano de 2020 (quando foram 52) e impressionantes 52% a mais do que em 2019 (42).

Apesar de um grande salto na quantidade de operações, esses números deixam de lado um ponto mais do que relevante: o valor dos novos negócios.

Quando dividimos o valor movimentado pelos IPOs e follow-ons de cada ano pelo número de operações, concluímos que, em 2019, as operações movimentaram, em média, R$ 2,1 bilhões. Em 2020, foram R$ 2,2 bi. E em 2021, caiu para R$ 1,9 bilhão. Uma queda de 14% no valor médio.

O torturante desfile de números dos parágrafos acima ilustra o fato de que mais empresas e mais pessoas estão chegando à bolsa, mas para fazer negócios menores.

Se os negócios estão menores e os investidores do chamado varejo estão mais numerosos, podemos ser levados à conclusão de que o poder dos investidores “gente como a gente” sobre o mercado está aumentando.

E é aí que mora um dos perigos que tenho visto no dia a dia: pessoas entrando no mercado de ações com a crença de que se uma ideia de negócio é popular, ela tem o poder de movimentar o mercado naquele sentido. Afinal, se centenas de milhares de pessoas estão entrando em um “trade”, seria um sinal de que o mercado está indo naquele sentido, certo? Errado.

O volume movimentado pelos investidores “pessoas físicas” na nossa Bolsa neste ano foi 19,59% do total. No ano passado, foi 21,27%, de acordo com estudo divulgado pelo BTG Pactual.

E os investidores estrangeiros? A participação deles subiu de 46,56% para 49,48% de todos os negócios feitos na Bolsa de 2020 para cá.

Assim, por mais que a Bolsa esteja se popularizando, ainda são os investidores estrangeiros, graúdos, que determinam a maré. Depois deles, vêm os investidores institucionais nacionais.

A imagem do Brasil no exterior e a (falta de) perspectiva sobre reformas estruturais e o respeito às regras ainda importam mais para o preço das suas ações do que o número de visualizações de um vídeo recomendando um papel obscuro como a barbada do século.

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