Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos
Descrição de chapéu petrobras

Bolsa brasileira 'made in China' passa por teste de fogo

Sinais de que nosso maior parceiro comercial vai diminuir a passada dão uma oportunidade para recalibrar a carteira de investimentos

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A ideia de ver o PIB brasileiro crescer mais do que o da China neste ano ou no próximo parece ótima para propagandas. Em clima de Copa do Mundo, seria hora de comemorar. Mas a perspectiva deveria deixar os investidores por aqui, no mínimo, preocupados.

Estar melhor do que a China não significa que nossa economia esteja voando. A verdade é que a economia Chinesa está com o pé no freio. E, na semana passada, o dirigente Xi Jinping deixou bem claro que pretende continuar assim.

Economia chinesa, maior parceiro comercial do Brasil, está desacelerando - Jade Gao/AFP

Durante o 20º Congresso do Partido Comunista Chinês, Jinping passou a falar de "crescimento de alta qualidade", substituindo a escalada desenfreada do gigante asiático que nos levou a cunhar a expressão "crescimento chinês".

O líder comunista aproveitou para elogiar a sua própria política de Covid zero, que tem gerado a oscilação no funcionamento de comércios, portos e serviços em cidades inteiras, sendo apontada como uma das grandes responsáveis pela queda da atividade econômica.

"Colocamos a vida das pessoas acima de tudo", disse, sem dar nenhum sinal de afrouxamento na testagem em massa obrigatória, na vigilância constante, nas quarentenas forçadas e na decretação de lockdowns regionais.

E por que o que diz um líder comunista do outro lado do mundo deveria mexer diretamente com suas perspectivas para os investimentos? Veja bem: desde 2009, a China é a maior importadora de produtos brasileiros.

No ano passado, ela foi responsável por comprar 31,2% de tudo que exportamos, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Em 2020, por 31,7%. Antes disso, em 2019 e 2018, ficou na faixa dos 27%.

No topo das negociações, estão o minério de ferro e o petróleo. A cada 10 toneladas de minério exportadas no ano passado, 6,5 foram para a China. A cada 100 barris de petróleo, 47 seguiram o mesmo destino.

E quem são os grandes vendedores disso por aqui? Elas, sempre elas, as nossas gigantes Vale e Petrobras.

Você deve lembrar que a Vale é a empresa com maior representação no Ibovespa, sendo suas ações (VALE3) responsáveis por 14,8% do índice. Os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) respondem por outros 12,4%.

Trocando em miúdos, quem tem definido o preço do minério de ferro e do petróleo —orientando as ações da Vale e da Petrobras e, em grande parte, o Ibovespa— nos últimos anos é justamente a demanda chinesa.

Aliás, ao definir seus fatores de risco, a Vale, em documento oficial, avisa: "Qualquer contração do crescimento econômico da China ou mudança em seu perfil econômico (...) poderiam resultar em menor demanda por produtos da companhia, levando a menores receitas, fluxo de caixa e rentabilidade".

Outros possíveis problemas para o desempenho dos papéis da Vale, segundo ela mesma, foram "o desempenho fraco nos setores imobiliário e de infraestrutura chineses"; "o maior consumidor de aço carbono na China"; e "as medidas de controle pandêmico da Covid-19, como paralisações resultantes de surtos localizados".

Os sinais claros de que o nosso maior parceiro comercial vai diminuir a passada, dados pelo Partido Comunista Chinês na semana passada, dão uma nova perspectiva para o futuro do Ibovespa e uma oportunidade para quem estiver atento recalibrar a carteira de investimentos, diminuindo sua dependência do crescimento da China.

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