Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos

O mercado não fica triste, nem feliz, apenas vende e compra

Não importam as opiniões, o que leva alguém a comprar ou vender papéis no mercado financeiro é a expectativa de retorno

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O mercado não fica triste, nem feliz. Ele define os preços. Investidores vendem e compram papéis de acordo com suas perspectivas de geração de valor por uma ou outra empresa, bem como a partir do retorno que imaginam ter, ao emprestar dinheiro para um país ou uma companhia.

Isso serve para a retumbante queda do Ibovespa e a expressiva alta do dólar durante a última fala do presidente eleito Lula —com duras críticas à "estabilidade fiscal" e incentivos à ampliação de gastos sociais. E servirá para os próximos discursos.

O mercado é o que é. A opinião do líder petista não muda isso. Bem como não adiantou de nada quando o atual presidente, Jair Bolsonaro, reclamou das quedas do preço das ações da Petrobras, quando ele interferiu na gestão da petroleira.

Não importa se a "tese" defendida pelo mandatário é o bem maior —baratear a gasolina ou acabar com a fome. O que leva alguém a comprar ou vender papéis no mercado financeiro é a expectativa de retorno. E isso tem reflexos econômicos e políticos.

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Pedestres observam a sede da Bolsa de Valores, em São Paulo - Amanda Perobelli - 9.mar.2021/Reuters

A regra vale para políticos e, principalmente, para as empresas.

Pouco mais de um ano depois de estrear na Bolsa de Valores, o TC, companhia cuja missão seria "impulsionar o mercado financeiro e a vida das pessoas" negocia suas ações TRAD3 por 17,5% do preço que valiam na largada, em julho do ano passado.

A empresa está em uma briga figadal com a casa de análises Empiricus, sobre a qual já escrevi aqui. Vídeos anônimos, boletins de ocorrência e até acusações de estupro entraram na roda. E isso, ressalto, é bom para nos lembrar que o mercado é feito por pessoas.

Nesta quinta-feira (10), o TC, antigo Traders Club, divulgou seu balanço referente ao terceiro trimestre deste ano. E nele estava um chamativo Ebitda negativo de R$ 22,5 milhões. Um recorde, no mau sentido.

Ebitda é uma sigla para o que, em português, significa "Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização". Simplificando, é o quanto a empresa está gerando de caixa considerando apenas a sua atividade fim (e não aplicações financeiras do período, por exemplo).

Ou seja: o TC está longe de fazer dinheiro suficiente para cobrir os gastos e despesas do negócio. Infelizmente, não é um ponto fora da curva. No trimestre passado, o Ebitda foi negativo em R$ 9,4 milhões. No anterior, eram R$ 16,2 milhões abaixo de zero. A última vez que foi positivo, aliás, no primeiro trimestre de 2021, antes de a empresa ser listada na Bolsa.

O lucro bruto, que é o cálculo simples de receita menos custos, teve uma queda brutal, chegando praticamente à metade do que foi nos trimestres anteriores. Isso enquanto a empresa demitia 27% de seus funcionários em relação ao fim do ano passado.

O peso de resultados tão negativos pode ter passado despercebido pelos investidores mais afoitos, que deram apenas uma "passada de olho" no release de resultados da empresa. No documento, todas as variações, positivas ou negativas, estavam de cor verde brilhante, ao lado de um delta verde, que poderia claramente ser confundido com uma seta para cima.

Além do "design otimista", no mesmo dia da divulgação dos resultados, foi publicada uma notícia reaquecendo a briga entre o TC e a Empiricus. "Exclusivo: áudio revela ação de CEO da Empiricus antes de vídeo anônimo contra empresa TC", diz a manchete.

Foi o bastante para o TC convocar uma coletiva de imprensa apenas para seu CEO reafirmar que teria sido vítima de uma manipulação de mercado por parte da Empiricus, para derrubar as ações de sua companhia. Assim, em poucas horas, balanço e números reais saíram de cena, para dar espaço a acusações e narrativas.

O TC garante que não teve nada a ver com a divulgação da notícia, bem como que a cor verde berrante com o qual pintou seus resultados negativos foi apenas um uso de cores padrão. Em email, reconhece haver "oportunidade para evoluir" o layout da divulgação de resultados.

E aí voltamos ao início do texto. O mercado é o que é. Narrativas, boa vontade ou acusações não mudam números do mundo real. E entender isso é essencial para olhar com o foco certo e aproveitar as tendências nos seus investimentos. Em vez de "escolher um lado" para torcer, é melhor entender o papel de cada um no jogo.

Erramos: o texto foi alterado

O TC, antigo Traders Club, teve um Ebitda negativo de R$ 22,5 milhões e não de R$ 26,975 milhões no terceiro trimestre deste ano. No trimestre passado, o Ebitda foi negativo em R$ 9,4 milhões e não em R$ 14 milhões. No anterior, foram R$ 16,2 milhões abaixo de zero e não R$ 19 milhões negativos. Os números foram corrigidos.

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