Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Briga no mercado financeiro expõe humanos por trás dos números

Na queda de braço entre entre TC e Empiricus, quem saiu ganhando foi o investidor

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Uma briga institucional mexeu com os brios do mercado financeiro nesta semana. De um lado do ringue, a Empiricus —cujos anúncios já devem ter invadido seus vídeos do YouTube em algum momento. Do outro, o TradersClub (TC)— plataforma de informações de mercado que "viralizou" recentemente ao colocar uma estátua de Paulo Guedes vestido de herói em seu escritório.

Além do posicionamento institucional no mínimo incisivo, as duas empresas atuam no mesmo mercado (de informações para investidores), tendo em sua comunidade de clientes perfis muito ativos na internet.
Acontece que a Empiricus foi, de certa forma, responsável por uma queda de cerca de 20% no preço das ações da sua concorrente.

Um relatório assinado por três analistas, entre eles, Felipe Miranda (estrategista-chefe da Empiricus), publicado na terça (26), dizia que os papéis do TradersClub (TRAD3) não valiam metade do valor pelo qual eram negociadas (R$ 6,10).

Estátua do ministro Paulo Guedes na sede do TC
Estátua do ministro Paulo Guedes na sede do TC - Cafecomferri/Twitter

Relatórios e análises de e investimentos são documentos feitos por especialistas para ajudar a orientar os investidores. Corretoras, bancos e casas de análise produzem diferentes estudos para fomentar seus clientes.

O relatório da Empiricus aterrissou como um coquetel molotov nas ações do TradersClub. Do início do pregão na terça (o relatório foi publicado às 9h20) até o meio da tarde de quarta (27), os papéis despencaram mais de 19%. Depois, começaram a se recuperar e, no fim de quinta-feira (28), voltaram a valer praticamente o mesmo de antes do relatório.

Entre outras coisas, a análise da Empiricus afirma que, para atingir a receita esperada pelo mercado, de R$ 1 bilhão em 2025, o TC teria que usar mais dinheiro do que tem em caixa para comprar outras empresas da área, criando outras fontes de receita. E lembra que a companhia faturou R$ 40 milhões em 2020 — ou seja, vai ter que multiplicar isso por 25.

Além disso, o relatório lança dúvidas sobre a governança envolvendo dois sócios, do grupo controlador do TradersClub, e aponta a dificuldade que outras plataformas de informação têm para monetizar a produção de conteúdo.

Dois dias depois de levar a pancada, foi a vez de o TC responder. Em um longo documento, Felipe Pontes, sócio da empresa, acusa os analistas da Empiricus de não conseguirem entender o negócio do TradersClub, em meio a uma chuva de alfinetadas sobre o trabalho da casa de análise.

"Quando os analistas falam que a receita é baseada em infoprodutos para pessoas físicas e compara com a própria Empiricus (de novo, não entendo o porquê das escolhas dos pares que não fazem sentido), o sinal que eu recebo é que os analistas de fato não entenderam o nosso modelo de negócios. O TC não vende um pdf, o TC dá acesso a informações, dados, inteligência de mercado, relatórios de recomendações, chats, cursos etc.", afirma.

Pontes diz ainda que, ao criticar o modelo de negócios, os analistas da Empiricus desconsideram as aquisições feitas pelo TC. "Tem horas que eles falam das aquisições e tem horas que parece que as aquisições não existiram e o dinheiro entrou num Buraco de Minhoca e se perdeu em alguma outra dimensão", reclama.

O documento segue com ataques ao método utilizado e coloca em evidência o conflito entre TC e Empiricus.

Vale lembrar que ambas estão "na crista da onda". Enquanto o TradersClub abriu seu capital na Bolsa em julho, levantando R$ 607 milhões, a Empiricus foi comprada, em maio, pelo BTG Pactual, por R$ 690 milhões. E o banco, claro, enxerga potencial de lucrar com isso.

O time de analistas do próprio BTG, aliás, recomenda a compra das ações do TradersClub, apontando que elas têm potencial para chegar a R$ 14. Além de apontar o crescente número de investidores no Brasil e de assinantes dos produtos de informação do TC, o banco diz ver potencial de grande aumento da monetização se a empresa começar a gerar tráfego e direcionar investidores para corretores, bem como diversificar seu portfólio educacional.

Outra casa de análises bastante usada no mercado, a Eleven, também acredita que os papéis devem chegar a R$ 14 e aponta como risco a dificuldade de integrar ao sistema já existente as novas empresas que vêm sendo adquiridas pelo TC para expandir seus negócios. O mesmo documento traz elogios à atuação de diferentes sócios da empresa.

Ao mesmo tempo, independentemente dos dados econômicos do TradersClub ou do perfil de seus sócios, a análise do gráfico das ações TRAD3, feita pelo estrategista Eduardo Marzbanian (CNPI-P), que publica suas análises no Monitor do Mercado, aponta que os papéis estão em tendência de baixa no curto prazo, com defesa (ou seja, o preço em que podem encontrar estabilidade e/ou começar a subir) em R$ 4,30.

Juntando as quatro análises, as ações TRAD3 podem ter como preço-alvo R$ 3,10; R$ 4,30; ou R$ 14. Ainda que as projeções tenham sido feitas em diferentes momentos, a disparidade deixa claro o lado humano deste tipo de previsão.

Entender a base das diferentes opiniões ajuda o investidor a aprender, tirar suas próprias conclusões e entender que sua confiança nos humanos por trás dos números deve também ser levada em conta na hora de tomar uma decisão sobre o próprio dinheiro. Na briga entre TC e Empiricus, quem saiu ganhando foi o investidor.

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