Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos
Descrição de chapéu juros

Perto do precipício, boa e má notícia

Momento do corte de juros nos EUA historicamente acontece à beira do precipício

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"Não há nada mais equivocado do que ter certeza", escreveu Millôr Fernandes. E o mercado financeiro exponencia essa máxima. Quem tem certezas demais costuma quebrar a cara e a banca. Por isso é preciso ouvir os otimistas, os pessimistas e os desconfiados o tempo todo.

E tem aumentado, no mercado financeiro, o número de vozes apostando em uma queda generalizada do mercado dos Estados Unidos, nos próximos meses. Não se engane: uma queda no maior mercado do mundo é um tombo aqui também. O S&P 500, índice com as maiores empresas do planeta, orienta, em grande parte, o nosso hoje combalido Ibovespa.

Investidores trabalham no térreo da Bolsa de Nova York, nos Estados Unidos. Na imagem estão três homens: o da direita, veste um casaco, com a bandeira dos Estados Unidos, na manga, e é grisalho; o do meio é calvo e veste jaqueta de moletom preta sobre camisa azul; o da esquerda tem cabelos castanhos e veste terno.
Investidores trabalham no térreo da Bolsa de Nova York, nos Estados Unidos. Anúncio do Fed de que continuaria a aumentar juntos causou, em média, perdas leves nas ações. - Spencer Platt/Getty Images via AFP

O que indica essa queda, de acordo com gestores e analistas, do Brasil e dos Estados Unidos? O banco central americano, o Fed (Federal Reserve), parece mais perto de começar a cortar os juros.

Os leitores mais atentos vão estranhar a frase acima. O corte de juros não é justamente o que o mercado espera para começar a subir? A lógica é "juros baixos => dinheiro barato => empresas investem => empresas crescem => ações sobem", certo?

A lógica continua a mesma, mas —sempre tem um "mas"— o momento do corte de juros nos EUA historicamente acontece à beira do precipício, quando a recessão abre a porta e as empresas não conseguem pagar mais suas dívidas, a inadimplência dispara, bancos quebram… E essa é a fórmula para derrubar a Bolsa.

Perceba que não é uma correlação do corte de juros com a quebradeira. Muito pelo contrário. O corte é a sinalização de que as altas levaram à quebradeira e, então, é hora de facilitar o acesso ao dinheiro novamente.

Entre as primeiras empresas a apanhar estão as que dependem de gastos considerados supérfluos. "Onde, em uma recessão, vai ter gente disposta a pagar US$ 10 em um copo de café?", questiona o analista Bo Williams, da PhiCube, ao apontar ações da Starbucks como boas candidatas a operações de venda a descoberto (o chamado short selling, em que você ganha com a queda do preço dos papéis).

Historicamente, o fundo do S&P 500 é atingido de 7 a 18 meses depois de o Fed começar a cortar juros, contabilizou o gestor de investimentos Pedro Cerize, em entrevista ao podcast Market Makers. Depois disso, os gráficos costumam mostrar preços ladeira acima.

O mercado enxerga uma probabilidade de quase 75% de os juros nos EUA ficarem abaixo da atual faixa (de 5% a 5,25% ao ano) após a reunião do Fed do dia 20 de setembro.

A probabilidade de um anúncio de corte na reunião de 26 de julho também não é baixa: 34,5%. Isso segundo os dados da ferramenta CME FedWatch, que compara preços de contratos atrelados à taxa de juros negociados no mercado.

A boa notícia é que movimentos claros são melhores para ganhar algum dinheiro no mercado financeiro. Uma queda clara possibilita grandes lucros com operações de venda a descoberto. Há, aliás, no mercado americano, ETFs (fundos negociados em Bolsas de Valores) de short selling, ou seja, você compra cotas de apostas na queda.

Da mesma forma, ter a certeza de que foi atingido o fundo do poço traz, finalmente, a segurança de que os ventos favoráveis começarão a soprar.

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