Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Descrição de chapéu juros Selic

Crise de dívida anunciada

Com juros em alta, 15% dos países de baixa renda já entraram em crise de dívida, segundo FMI

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A diretora-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Kristalina Georgieva, fez um alerta, nesta semana, para um dos problemas dos juros altos generalizados (que não são exclusividade nossa): os países pobres estão entrando em crise de dívida.

Não é dívida qualquer, é com o FMI. Coisa de 20 anos atrás, a negociação das dívidas do Brasil e tantos outros países com o órgão internacional eram notícia de destaque.

Kristalina falou que, com os aumentos locais de juros, 15% dos países de baixa renda já entraram em crise de dívida — ou seja, não vão conseguir pagar como planejado. E o número pode aumentar para 45% dessas nações, afirmou. Estaremos entre elas? Não se sabe ainda, mas o aviso está dado.

Diretora do FMI (Fundo Monetário Internacional) Kristalina Geogieva  no painel Infraestrutura Digital: Somando os Benefícios em encontro na sede do Fundo Monetário Internacional
Diretora do FMI (Fundo Monetário Internacional) Kristalina Geogieva no painel Infraestrutura Digital: Somando os Benefícios em encontro na sede do Fundo Monetário Internacional - Stefani Reynolds/AFP

Apesar da dificuldade em equalizar os juros, a diretora do FMI acredita que eles ainda são necessários, em uma visão global, para o controle da inflação. Sua principal sugestão é renegociar.

As tentativas de calibrar "o preço do dinheiro" tem trazido algumas boas oportunidades para investidores. Explico a seguir.

O aviso do FMI é mais lenha para o embate sobre a possível redução da nossa taxa básica de juros (Selic). A desaceleração da inflação oficial (IPCA) de março deu mais um empurrãozinho. Como já disse aqui, os números e projeções precisam chegar na burocracia do Banco Central. Não adianta só vontade.

A pressão para baixar está aumentando no setor privado. Na visão de um megaempresário, controlador de algumas companhias mais do que conhecidas dos investidores, com quem conversei recentemente, as taxas de juros estão erradas, sufocando o crescimento em nome de uma meta de inflação irreal para nossos padrões.

O bilionário, que conhece por dentro diferentes setores e operações de multinacionais, faz uma provocação interessante: "Alguém fala da meta da inflação da China?"

É verdade que, quando se fala de China, o número que vem à roda é o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Oficialmente, aliás, a inflação de lá em 2022 foi de 2%. A meta é cerca de 3%. Estar abaixo dela acende uma luz amarela, porque significa que a demanda está em baixa. A taxa básica de juros lá está em 3,65% para empréstimos de um ano e em 4,3% para os de cinco anos.

Ainda assim, o governo chinês definiu uma meta de crescimento para o PIB de 5% neste ano. Economistas esperam até um pouco mais que isso. Já o nosso, deve subir 0,91% até o fim de 2023, de acordo com as previsões mais recentes reunidas pelo Banco Central, no Boletim Focus.

Com os juros nas alturas e pouca perspectiva de crescimento, emprestar dinheiro continua um bom negócio. Não só para bancos, mas para gente como a gente. Falo dos chamados títulos de renda fixa. O JP Morgan anunciou que espera retornos de dois dígitos ainda neste ano, com títulos de dívidas nos países emergentes.

Mais especificamente, títulos do Brasil, da Indonésia e do México estão na mira do banco, de acordo com a Bloomberg. São lugares onde os bancos centrais "têm atuado de forma decisiva e oferecem taxas de juros reais positivas".

Além dos títulos públicos, há boas oportunidades naqueles emitidos por empresas. A alta dos juros já havia tornado mais difícil para as empresas conseguir crédito. O caso

das Americanas trouxe ainda mais dificuldades na negociação com os bancos. Com isso, os prêmios para quem topa emprestar ficaram mais altos.

Três gigantes da Bolsa estão com ofertas chamativas de títulos de renda fixa, oferecendo como retorno a variação do IPCA no período mais taxas que vão de 6,2% a 6,7%: o mega frigorífico Minerva, a petroleira Prio (ex-PetroRio), e a segunda maior distribuidora de combustíveis do país, Raízen.

As três estão no topo dos rankings de agências de avaliação de risco, como S&P e Fitch, com notas AAA ou AA.

São apostas interessantes, pensando inclusive na possibilidade de redução de taxa de juros. Se eles realmente caírem, esse tipo de papel passa a valer mais no chamado mercado secundário e dá para fazer um bom dinheiro sem esperar o vencimento previsto, que vai de 2029 a 2037, nos exemplos que citei.

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