Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Marcos de Vasconcellos

Greve em Hollywood serve de alerta a investidores

Preço de ignorar a tecnologia pode ser a nova Blockbuster, a locadora que virou lembrança

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ter estrelas de cinema em greve pode parecer uma distopia, em um planeta onde ainda são corriqueiras as notícias sobre trabalhadores mortos em explosões de minas de carvão ou em situações semelhantes à escravidão. Mas a greve é real e traz à tona questões importantes para você tomar decisões melhores em relação aos seus investimentos.

Além da pauta trabalhista clássica (reajustes, contratos mais longos e planos de saúde), atores e roteiristas de Hollywood tentam segurar o uso da inteligência artificial nas produções. A tecnologia tem poder para diminuir custos e aumentar a margem de lucro das empresas. E os custos a serem cortados podem ser justamente o tempo dos atores e dos roteiristas.

Quem não viu o comercial da Volkswagen "com" a Elis Regina pelo menos ouviu falar dele. Se não precisamos de uma Elis para fazê-la andar de Kombi nas telinhas, por quanto tempo o custo com atores, atrizes e dubladores ainda será uma linha relevante na contabilidade das empresa de entretenimento?

Atores e roteiristas protestam, em Los Angeles - Mike Blake - 17.jul.2023/Reuters

Mas a tecnologia não cria rostos, vozes e textos "do nada". De certa forma, a produção dos artistas vira matéria-prima. O roteirista David Simon, que tem sido uma voz ativa na greve, explica o ponto: "[Os algoritmos] não estão apenas sendo treinados nesses roteiros. Os meus roteiros estão na amálgama do que eles irão, em seguida, produzir como produto da inteligência artificial, não como o produto de um roteirista humano vivo".

Lutar contra o uso da tecnologia que tem a capacidade de aumentar a produção e as margens de lucro parece fadado à derrota, como um ludismo em pleno século 21. Quebrar as máquinas não impediu que elas substituíssem os trabalhadores da tecelagem no início da Revolução Industrial. Há espaço, entretanto, para que o aumento nas margens de lucro seja, em parte, direcionado a quem alimenta os robôs.

É esse barco que os roteiristas e atores lamentam ter perdido no lançamento dos DVDs. As intermináveis promoções de boxes com séries inteiras não viraram dinheiro em seus bolsos. A receita gerada por suas produções em plataformas de streaming ainda está em discussão. A criação de novos produtos com a inteligência artificial baseada em seus arquivos de ideias, textos e atuações precisa mesmo entrar na conta e no planejamento das empresas.

Mais do que acreditar que será decidido como uma queda de braço —onde ou a produção será totalmente gerada por máquinas ou haverá uma barreira para a entrada da IA nos estúdios—, é essencial tentar enxergar quem está se preparando para navegar sem sustos nesse novo mundo.

Um contrato recente da Netflix, divulgado pelo New York Times, tentou conceder à empresa o uso gratuito de uma simulação da voz de um ator "por todas as tecnologias e processos atualmente conhecidos ou desenvolvidos no futuro, em todo o universo e em perpetuidade".

Um contrato aberto assim tem muito espaço para questionamentos, segundo os advogados que entendem do assunto. Mas é melhor existir uma previsão do que esperar as novas surpresas. Rever o contratos antigos, ainda em vigência, para adaptá-los à nova realidade parece o passo mais acertado.

Essa é apenas uma das áreas a serem afetadas com o avanço das inteligências generativas. Já falei aqui sobre o setor de educação e vale, também, pensar em todo o mercado de marketing, de relacionamento com clientes e de desenvolvimento de softwares.

Quem busca negócios escaláveis e de crescimento exponencial para investir precisa estar atento às discussões e, muitas vezes, às omissões das empresas sobre o que parece ser um novo salto tecnológico. O preço de ignorá-lo pode ser virar o alvo de uma greve no futuro ou, pior ainda, ser a nova Blockbuster, a locadora de filmes que virou apenas lembrança.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.