Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos

Aterrissagem suave nos EUA e pouso forçado no Ibovespa

Música da festa no mercado americano ecoou numa marchinha triste aqui no Brasil

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Não é 4 de julho, mas estão soltando fogos nos Estados Unidos. O principal índice de ações de lá, o S&P 500, chegou à sua máxima histórica no dia 19 (fechando a 4.839,81 pontos). Não satisfeito, passou a última semana renovando seus recordes a cada dia.

Você já deve ter cansado de ler que ainda esperam uma recessão por lá antes de o mercado de capitais se fortalecer. Como, então, resolveram aumentar as apostas no mercado financeiro? Explico: a ideia de uma "aterrissagem suave" —soft landing— da economia americana parece mais factível agora.

Painel mostra índice Dow Jones superando 38 mil pontos pela primeira vez na história, em 22 de janeiro
Painel mostra índice Dow Jones superando 38 mil pontos pela primeira vez na história, em 22 de janeiro - Michael M. Santiago - 22.jan.2024/Getty Images/AFP

O "soft landing" significa o desaquecimento da economia, mas sem todo o caos e desemprego que isso tradicionalmente traz consigo. Uma economia desaquecida significa queda na inflação, permitindo o corte de juros tão esperado pelo mercado financeiro e pelos empreendedores.

Pela teoria econômica mais propagada no mundo das finanças, para fazer a omelete com a inflação, é preciso quebrar os ovos do desemprego. Muito usada para explicar o fenômeno, a Curva de Phillips é uma equação matemática que faz a relação direta: a curto prazo, o desemprego e a queda nos preços andariam juntos.

A realidade dos EUA, no entanto, parece caminhar melhor do que a teoria sugere. Em resumo: a economia cresceu sem gerar mais inflação.

Dados divulgados na quinta-feira (25) apresentaram um crescimento do PIB de 3,3%, bem acima da expectativa do mercado, de 2%. Mesmo com essa alta inesperada, a medida de inflação veio bem próxima das previsões de analistas.

Economistas americanos começaram a usar o termo "desinflação imaculada". Vale lembrar que desinflação não é deflação. O primeiro é a redução nos aumentos, enquanto o segundo significa cortes nos preços.

A música da festa nos EUA ecoou numa marchinha triste aqui no Brasil. Na nossa Bolsa, uns dias chove, noutros dias bate sol, como cantou Chico Buarque. Enquanto o S&P 500, desde o início do ano, acumula mais de 3% de ganho, o Ibovespa perdeu 2,75% da pontuação.

O investidor estrangeiro já sacou quase R$ 5 bilhões da nossa Bolsa em 2024. Como é o dinheiro gringo que mexe com os preços daqui, o efeito fica claro.

Mas vale lembrar que estamos adiantados no ciclo de cortes de juros, que os EUA se apressam para iniciar por lá. Um relatório do BTG Pactual, de 24 de janeiro, dá uma boa injeção de ânimo ao analisar o desempenho de diferentes setores da economia brasileira durante as duas últimas rodadas de cortes da Selic (de 2019 a 2020 e de 2016 a 2018).

Em ambos os períodos, todos os índices setoriais da Bolsa superaram os ganhos do CDI, taxa de juros usada como referência para aplicações financeiras. Ou seja: a Bolsa foi bem, independentemente do setor.

Agora, depois das fortes altas de dezembro, parece que os grandes investidores estão mais interessados em arrumar um bom assento na aterrissagem suave da economia americana do que em buscar novos voos em mercados emergentes.

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