Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos
Descrição de chapéu Bradesco Santander Itaú

Gigantes das finanças sangraram no ringue

O setor está em uma transformação significativa, com poucas certezas

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Os últimos dias foram marcados pela divulgação de balanços de bancos, sempre essenciais para entender os caminhos do dinheiro. E vimos dois gigantes sangrando.

Bradesco e Santander registraram quedas brutais em seus lucros, levando a questionamentos sobre os próximos passos do setor financeiro.

Se você não checou as contas, o lucro do Santander em 2023 caiu mais de 27%, em relação ao ano anterior. No caso do Bradesco, a queda no período foi de 21%. Para piorar, esse é o segundo ano consecutivo que ambos veem o lucro escorrer cofres afora.

Montagem com fachadas dos bancos Itaú, Bradesco, Santander e a sede do Banco do Brasil em Brasília - Eduardo Anizelli, Rubens Cavallari, Fernando Bizerra/Folhapress

Não se trata de algo generalizado no setor. O gigante Itaú lucrou mais, assim como o BTG Pactual. Mas o baque dos seus concorrentes foi tamanho que, somando os resultados dos quatro, o lucro dos maiores bancos privados do país caiu 9,4%, como levantou a consultoria Etos Ayta.

O tombo surpreendeu (e muito) os analistas que acompanham de perto o mercado. Principalmente no caso do Bradesco. As ações do bancão derreteram no dia seguinte à divulgação dos resultados: caíram mais de 15% em um só pregão.

No caso do Santander, ainda que a queda anualizada dos lucros tenha sido ainda pior, os especialistas já esperavam por um resultado assim. E, como o mercado é feito mais de expectativas do que de realidades, as ações até subiram um pouquinho depois da divulgação do balanço.

Mas a verdade é que o sangue do Bradesco e do Santander pingou na lona e mostrou guerreiros com dificuldade de entender os caminhos para voltar a lutar como antes.

Nessas horas, quando queremos medir capacidade de reação a uma pancada, olhamos para o ROE, a medida de quanto o banco consegue ganhar a partir do patrimônio que tem (a sigla é para retorno sobre patrimônio líquido, em inglês). Quanto maior o indicador, mais lucrativa é a operação e, logo, mais chances de ela voltar ao ringue mais rápido.

O ROE do Bradesco está em 9,4%, o do Santander, 10,3%. Ambos parecem terríveis perto de seus concorrentes Itaú (18,3%) e BTG Pactual (20,1%).

Além do choque com o caso Americanas, que obrigou os bancos a provisionarem mais bilhões para calotes, o Brasil segue no seu processo que se apelidou de "financial deepening" —o aprofundamento financeiro. Em resumo, é o aumento da oferta de serviços e produtos financeiros à população.

A concorrência para os bancos aumenta a cada nova startup do setor, ou fintech. E a resposta deles tem sido, muitas vezes, excessivamente cara ou demorada. Como se diz no jargão: mudar a direção de um transatlântico é mais difícil do que virar um caiaque. Poucos gigantes souberam se remodelar, enquanto os outros têm agências que remetem aos anos 1990.

Quem tem dinheiro no caixa busca o caminho da consolidação. Nesta semana, por exemplo, o Safra comprou a Guide Investimentos, corretora independente, que ocupava o quarto lugar entre as maiores do Brasil. Logo antes disso, em dezembro, a Empiricus, que já era do ecossistema do BTG, entregou a operação de sua corretora de vez para as mãos do banco.

Quando os independentes estão achando mais vantajoso vender (ou passar a chave adiante) e os tradicionais estão batalhando para encontrar lucratividade, fica claro que o setor está em uma transformação significativa, com poucas certezas e muito dinheiro mudando de mãos.

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