Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Folhainvest

Euforia com gigantes na Bolsa esconde armadilhas

Mal chegamos no segundo semestre de 2024 e já foi noticiada a fusão ou a negociação de uma fusão com a participação de 10 companhias listadas

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A criação de gigantes parece estar na moda no Brasil, ao menos para as empresas que estão na Bolsa de Valores. Não chegamos ao segundo semestre e já foi noticiada a fusão ou a negociação de uma fusão com a participação de 10 companhias listadas.

Sempre há algo de megalomaníaco no noticiário sobre as empresas com ação em Bolsa, já que o crescimento, o aumento da eficiência e da produtividade são o foco dos investidores. Isso explica o aparente otimismo quando se noticia que uma fusão criará "o maior do Brasil" em qualquer área que seja. Mas a alta das ações nem sempre se mantém com a realidade do casamento.

REUTERS

Até agora (lembre-se, ainda estamos em maio), o cenário é esse: a Petz se juntou com a Cobasi, dominando o mercado de petshops; Arezzo e Grupo Soma tornaram-se a maior empresa de varejo de moda da América Latina; Enauta e 3R Petroleum vão consolidar um gigante do petróleo, que nasce com mais de R$ 13 bilhões em valor de mercado; a Auren comprou a AES Brasil e virou a terceira maior geradora de energia elétrica do país; a Sequoia Logística incorporou a MOVE3 e agigantou-se a ponto de só perder para os Correios em tamanho; e Azul e Gol estudam um casamento que tornará ainda menos diversificados os nossos aeroportos.

Estamos criando colossos corporativos que prometem moldar o futuro do já concentrado mercado nacional —temos menos de 500 empresas na Bolsa de Valores. Ainda que a promessa de aumento de eficiência seja atraente, é crucial adotar uma visão crítica, para não acreditar em propaganda

As tais sinergias, que sempre acompanham os anúncios de fusões, podem trazer economias de escala significativas, acesso a novos mercados, aumento da capacidade de inovação, fortalecimento da posição de mercado e diversificação de produtos e serviços. Isso além da melhora da capacidade financeira e gestão de riscos.

Na outra ponta, além da concentração de mercado, que ceifa o poder de escolha do consumidor (não preciso dizer que os monopólios são um problema para a clientela), a complexidade da integração operacional e a dificuldade de alinhar culturas corporativas muitas vezes compromete a operação que foi desenhada na hora de fechar negócio.

Temos o histórico preocupante. No caso da Hapvida com a NotreDame Intermédica, por exemplo, o anúncio da fusão, no início de 2022, gerou uma corrida pelas ações, que subiram como foguetes. De lá para cá, entretanto, a Hapvida viu o preço dos papéis cair abaixo da metade.

Também na corrida pela consolidação do setor da saúde, em 2022, a Rede D’Or comprou a SulAmérica, em uma mega operação. As ações dispararam e atingiram seu pico em março daquele ano, logo após o anúncio. Hoje, os papéis são negociados por 60% do valor que atingiram naquela época.

Há dois anos, quando a Alliance Sonae anunciou a aquisição da concorrente BR Malls, o mercado criou grandes expectativas sobre o gigante dos shopping centers. As ações da Alliance Sonae estavam, então, cotadas a R$ 21 —mesmíssimo patamar em que se encontram hoje.

A dificuldade em ajustar as operações explica o caso da fusão "em cima do muro" entre Marfrig e BRF. Desde dezembro do ano passado, a Marfrig já possui mais da metade da BRF, mas até agora não conseguiu deixar claro para analistas quais os ganhos reais para unir de vez as operações —nem se vai efetivamente fazer isso.

A lição é que criar gigantes às vezes é mais fácil do que fazer com que eles trabalhem a favor do acionista, do consumidor e da economia. Anúncios podem trazer euforia e valorização, mas a análise fria dos planos para depois do casamento pode evitar armadilhas.

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