Marcos Lisboa

Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)

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Marcos Lisboa

Teddy

Theodore Roosevelt podia ser valentão, mas conhecia o ofício da política, dialogava com a imprensa e sabia do que falava

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No fim do século 19, os Estados Unidos viviam entre o céu e o inferno. Havia uma democracia consolidada, com eleições regulares e independência do Judiciário. Ao mesmo tempo, a corrupção se disseminara e os partidos eram financiados por razões nada republicanas.

A riqueza proporcionada pelo capitalismo contrastava com as degradantes condições de trabalho da grande maioria.

O presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt - Reprodução

Entre 1880 e 1910, houve muitas reformas. Foram aprovadas normas para regular os contratos de trabalho, proibiu-se a nomeação política de servidores públicos e passou-se a combater as práticas anticoncorrenciais das grandes empresas.

Theodore Roosevelt foi um dos protagonistas desse período. Filho de um rico comerciante de Nova York, republicano e conservador, adorava colecionar animais abatidos em caçadas. Secretário-adjunto da marinha, foi o principal instigador da guerra contra Espanha, tornando-se celebridade pela sua participação no conflito em Cuba.

Roosevelt sintetiza as contradições da época. O caçador contumaz também foi um eficaz defensor da preservação do meio ambiente e dos animais em extinção. Governador eleito com o apoio da máquina partidária contaminada, combateu a corrupção com arte e porrete.

Para desespero dos reformistas, negociava com as lideranças da política tradicional. Por vezes, porém, encurralava com maestria a cúpula partidária e aprovava medidas que limitavam o poder das corporações ou que protegiam os trabalhadores. “Gritos e ameaças” não teriam conseguido dez votos, afirmou.

Roosevelt fazia questão de estar próximo da imprensa. Governador, organizava reuniões semanais para apresentar seus objetivos e as razões da sua escolha. Ele impressionava por conhecer detalhadamente os temas em debate. Eventuais divergências não o incomodavam. 

“Não preciso dizer-lhe que nenhuma crítica sua pode alterar em nada minha estima por você... Sei que discorda porque honestamente acredita que deva fazê-lo”, escreveu a um jornalista.

Certa vez, um colunista fez uma resenha irônica e devastadora do seu livro sobre a guerra em Cuba. O governador reagiu com um convite: “Lamento declarar que minha família e amigos íntimos estão encantados com a sua resenha... Acho que você me deve uma; e vou cobrar que venha me visitar... Há muito queria ter a chance de conhecê-lo”.

Roosevelt tornou-se presidente dos EUA e continuou sua agenda de reformas. Negociou o fim da guerra entre Rússia e Japão e recebeu o Nobel da Paz, não sem controvérsias.

Teddy —ele detestava o apelido— podia ser valentão, mas conhecia o ofício da política, dialogava com a imprensa e sabia do que falava.

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