Marcos Lisboa

Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)

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Marcos Lisboa

Sitiada

População deixa de ser bem-vinda em um dos espaços da democrática Paulista

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A avenida Paulista surpreende pelos seus imensos prédios margeados por calçadas largas. Muitos edifícios possuem comércio no térreo. Há jardins e espaços públicos convidativos, como o parque Trianon e a inesperada praça no quinto andar do IMS.

O Conjunto Nacional representa o que de melhor a arquitetura paulistana pôde oferecer nos anos 1950. As marquises generosas protegem o pedestre da chuva. A calçada e suas lojas se confundem com o interior do prédio, não se sabendo muito bem onde termina o público e começa o privado.

O prédio multifuncional desenhado por David Libeskind é uma obra de arte e de civilidade.

Pouco anos depois, Lina Bo Bardi concebeu o Masp com seu vão livre de tirar o fôlego. A imensa praça coberta por um museu abriga os paulistanos e suas manifestações. O músico John Cage definiu-o como a “arquitetura da liberdade”.

O convite à comunhão da avenida Paulista, com suas muitas estações de metrôs e vias de acesso, atrai gente dos diversos cantos da cidade.

No domingo, proibidos carros e ônibus, esse imenso espaço transborda de pessoas de todos os tipos: brancos e negros, os muitos sexos dos novos tempos, jovens tatuados e adultos com as bermudas de quem iniciou a vida nos anos 1960. Alguns cantam e outros dançam em meio a mágicos com ternos surrados.

A elegante avenida exercita a benesse de um país de imigrantes: a convivência dos diferentes. Nem todo mundo, porém, aprecia a comunhão.

Por determinação de alguns senhores, a praça na esquina da alameda Ministro Rocha Azevedo foi fechada ao público.

Estrutura instalada na área do condomínio Cetenco Plaza, em São Paulo
Estrutura instalada na área do condomínio Cetenco Plaza, em São Paulo - Eduardo Anizelli/ Folhapress

O Cetenco Plaza tem nome de prédio nos Estados Unidos, mas é uma das belas construções da Paulista. Com seus pilares de concreto, que sustentam fachadas envidraçadas, os dois prédios em diagonal acolhem um imenso jardim frequentado por executivos e muitos jovens.

Trata-se de área segura, como constata Raul Juste Lores, que há anos resgata a história da arquitetura de São Paulo aberta aos imigrantes e atenta às necessidades dos cidadãos. Há o Tribunal Regional Federal nas alturas e a Caixa Econômica Federal no térreo. Ao lado, fica a sede paulistana do Banco Central.

Os condôminos do Cetenco Plaza não se deram por satisfeitos com tamanha proteção. Resolveram cercá-lo com muros de metal e desbastaram parte de seu jardim para impor imensas placas de vidro.

A população não é mais bem-vinda em um dos aconchegantes espaços da Paulista. A cidade sitiada fechou a praça aberta desde a construção do prédio, há cerca de 40 anos, refletindo o sectarismo dos tempos atuais. Não surpreende, mas não deixa de ser triste.

Existem senhores que preferem deixar os diferentes do lado de fora da fortaleza.

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