Marcos Lisboa

Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Marcos Lisboa

Vida dura

Estado e mercado não são excludentes, e sim complementares

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Uma pequena boa notícia em meio ao turbilhão. Acaba de sair por aqui "Economia do Bem Comum", de Jean Tirole, Prêmio Nobel de 2014.

O título provoca incômodo. A visão convencional opõe a economia de mercado à solidariedade e ao cuidado com o meio ambiente. Além disso, definir o bem comum implica juízo de valor, na contramão da economia, que enfatiza a diversidade dos indivíduos.

"Gosto não se discute", é um velho lema dos economistas, e daí o seu liberalismo. Cada um deve poder fazer o que achar melhor, desde que não prejudique os demais.

O mercado, porém, não é um fim em si mesmo. Ele é apenas um mecanismo, em geral eficiente, às vezes imperfeito, para atingir o bem comum, como afirma Tirole.

Um antigo exercício abstrato utilizado por John Harsanyi e John Rawls ajuda a superar o impasse. Imagine que você tenha consciência antes de nascer, mas não sabe se vai ser rico ou pobre, saudável ou portador de genes atrapalhados. Em que sociedade preferiria viver?

A igualdade de oportunidades tenta corrigir os acidentes da infância, e o direito à saúde protege os portadores de deficiências congênitas.

A economia combina modelos teóricos que necessariamente simplificam a realidade para testar, com base na estatística, as implicações das diversas conjecturas. Nada fácil, como revela a pesquisa aplicada do último meio século.

Todos temos preconceitos, e o rigor ao analisar a evidência é o melhor remédio para evitar decisões precipitadas, que produzem resultados inversos aos pretendidos.

Ao economista não cabe dizer o que fazer, apenas apontar as consequências de cada escolha, com base nos dados disponíveis.

O debate sobre desigualdade de renda é bem mais sutil do que se imagina. A depender das suas causas, a intervenção pública pode ser benéfica ou resultar em desastre. Um dos muitos casos repletos de nuances examinados no livro.

Estado e mercado não são excludentes, e sim complementares. A tese de que os indivíduos, sem a moderação do poder público, produzem o melhor dos mundos é tão desprovida de evidência quanto a crença de que o Estado pode planejar eficientemente a economia.

Na sua carreira, Tirole estudou os desafios da regulação para lidar com falhas de mercado. Cada caso é um caso. Atenção à técnica e aos detalhes são fundamentais para que a intervenção seja eficaz, e não destrutiva.

A crise de saúde pública e o distanciamento social desestruturam mercados e fragilizam famílias. Cabe ao governo coordenar as ações, com protocolos e gestão da escassez. A estultice de autoridades e a incompetência operacional, porém, podem agravar a letalidade da pandemia.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.