Marcos Lisboa

Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)

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Marcos Lisboa
Descrição de chapéu jornalismo

Que tal se concentrar nos problemas reais?

Diálogo desarmado será fundamental para construir soluções

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No domingo passado, O Globo publicou uma nota afirmando que eu teria sido sondado por alguém da cúpula do PT. Não era verdade. Não houve qualquer conversa. Curiosamente, não fui procurado nem mesmo pelo jornalista que divulgou a “informação”.

Não estou nas redes sociais, mas amigos me relatam a repercussão da nota falsa. À esquerda, afirmam que sou ultraliberal. À direita, que sou comunista. O rumor chegou à imprensa marrom, que adicionou fantasias conspiratórias à história.

Nada de novo. Quando estava no governo, em 2003, fui acusado de ser um infiltrado a soldo do Banco Mundial. As mentiras tornam-se divertidas com o tempo, porém a sua impiedade é inesquecível. À época, chamaram-me publicamente de “débil mental” e “papalvo”. Eu defendia que as políticas sociais focalizassem os mais pobres, o que resultou no Bolsa Família.

Marcos Lisboa, então secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, durante entrevista coletiva em Brasília, em 4 de novembro de 2003
Marcos Lisboa, então secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, durante entrevista coletiva em Brasília, em 4 de novembro de 2003 - Lula Marques - 4.nov.2003/Folhapress

Em 2013, já trabalhando no Insper, alertei em audiência no Senado que a política econômica levaria a uma grave crise. Na época, comentei em várias ocasiões que temia estarmos entrando em uma nova década perdida.

Horas depois da minha fala no Senado, um site de esquerda publicou: “Marcos Lisboa, demitido {do banco onde trabalhava} por telefone, culpa a economia”. Falso. Eu pedira demissão oito meses antes da minha saída, pois aceitara o convite para ir cuidar do Insper.

Com frequência, aponto que este governo promete muito, mas muitas medidas, quando analisadas tecnicamente, são inviáveis ou entregam bem menos do que o anunciado. É o que basta para despertar a fúria verbal dos convertidos.

Esse, contudo, é o preço da vida pública. Por vezes, os argumentos descambam para a desqualificação ou até mesmo para a difamação.

Nos últimos tempos, tornou-se comum utilizar instrumentos legais para reprimir notícias falsas ou ofensas pessoais. Não me parece um bom caminho.

A liberdade de expressão é melhor do que a alternativa, mesmo que se trate de sites que nos difamem. A luz do sol, como disse Louis Brandeis, juiz da Suprema Corte americana, é o melhor desinfetante.
Passou da hora de revogar a Lei de Segurança Nacional, resquício da ditadura.

Em meio à algazarra, porém, temos problemas reais. Neste momento tão difícil, a capacidade de encontrar diagnósticos comuns sobre temas que nos afligem será fundamental para construir soluções. Podemos divergir sobre a política fiscal, por exemplo, mas quem sabe a maioria possa concordar sobre as medidas de saúde pública.

Existem as grandes escolhas da política, entretanto também existe o papel da técnica para avaliar a viabilidade das propostas e suas implicações. Quem sabe esta tragédia ao menos permita iniciar um diálogo desarmado.

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