Marcus André Melo

Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).

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Marcus André Melo

Balanço político da pandemia

A pandemia revela o tipo real de político que temos

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Um balanço das previsões feitas sobre a pandemia sugere que a expectativa inicial de uma hecatombe econômica foi superestimada e deflagrou respostas que reduziram ainda mais a magnitude do impacto esperado. E produziram efeitos não antecipados, estes sim de grande impacto. O principal deles —o auxílio emergencial— alavancou a popularidade de um governo que entrara em modo sobrevivência.

O descompasso entre expectativa e realidade é notável: esperava-se que o colapso da economia seria sistemicamente desestabilizador para o governo, que não sobreviveria ao saldo cumulativo de mortes e do desemprego.

Havia expectativas sobre quem seria responsabilizado politicamente pela catástrofe. Já discuti anteriormente duas conjeturas rivais. A primeira é que a pandemia seria um choque que produziria efeitos negativos que afetariam a popularidade dos governos, em qualquer nível federativo. O eleitor aqui seria míope e reagiria, em “retrospecção cega” para usar o jargão, ao mal-estar social produzido pelo choque.

Em suma, todos os agentes políticos seriam afetados. Curiosamente, com o auxílio emergencial o jogo da responsabilização converteu-se na busca do crédito político mais que de culpabilização. Mas agora com seu fim o jogo inverteu-se e o objeto da disputa muda: do lockdown para a vacinação.

A segunda era que a pandemia funcionaria como uma lente de aumento sobre o desempenho dos governantes. O eleitor, desatento em relação à política, premiaria os bons gestores e puniria os maus.

Suspeito, grosso modo, que isso foi o que ocorreu. As eleições municipais confirmam a expectativa a despeito do fato que o jogo da responsabilização envolve principalmente governadores e o presidente, e não prefeitos. A alta taxa de reeleição de prefeitos de 63% (46%, em 2016) parece contrariar esta conclusão. Mas ela reflete a campanha curta e assimétrica, pró incumbentes, e não uma avaliação positiva dos gestores locais. Mas os casos de má gestão ficaram evidentes, e foram punidos. E vice-versa.

Como na economia, as expectativas do impacto da pandemia sobre a democracia mostraram-se exageradas. A democracia só se deteriorou onde já havia “co-morbidades institucionais”. Nestes contextos, líderes populistas aproveitaram-se da situação de emergência para concentrar poderes e coagir a oposição. Entre nós, iniciativas neste sentido foram inexpressivas (ou não relacionadas com a pandemia) ou foram frustradas pelas instituições de freios e contrapesos.

É claro que qualquer avaliação sobre o impacto social, econômico e consequentemente político da pandemia é temerária já que ela ainda está em curso. O teste para valer será em 2021.

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