Marcus André Melo

Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).

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Marcus André Melo

Três graves equívocos no debate sobre a polarização

A geometria política vai além de questões convencionais de extremos e centro

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Há pelo menos três graves equívocos no debate sobre polarização. O primeiro é supor que ela exige algum grau de simetria entre posições polares. Alguns argumentam que não há polarização nos EUA porque Biden é centrista. A confusão origina-se na falta de compreensão quanto ao conceito de mediana, muitas vezes entendida como centro.

A mediana de uma distribuição de preferências políticas pode estar ou não no valor central, digamos 5 em uma escala de 1 a 10 (onde 10 é extrema direita e 1, extrema esquerda). Não importa a escala —se baseada no auto posicionamento ou métricas objetivas— a mediana é o ponto que divide o eleitorado em duas partes iguais: metade à esquerda deste ponto e metade à direita.

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Bandeira dos Estados Unidos é exibida na avenida Paulista, em São Paulo, em ato pró-Bolsonaro - Eduardo Knapp - 14.jul.2024Folhapress

Segundo o Latinobarometro/Eurobarometro (2023), a mediana está à direita do centro, por exemplo, na Polônia, Brasil e Finlândia —é superior a 6; ou muito mais à direita dele em El Salvador e Montenegro, girando em torno de 7. Em outros está à esquerda (Espanha). A polarização assimétrica nestes casos ocorre entre grupos com posições centrais na escala e um dos polos, e não entre estes últimos. Se a mediana estiver em cerca de 3, posições em 6 será percebida como "fascista".

Uma tendência universal, em eleições majoritárias ou no voto distrital, é que haja uma convergência ideológica dos competidores para a mediana de preferências (não para o centro!). Mas a convergência tem dado lugar a tendências centrípetas.

O segundo equivoco é confundir as dimensões do conflito político (economia, pauta de costumes, etnia, etc), reduzindo-os a uma dimensão. O equivoco não permite entender a similaridade de posições em relação à economia ou gasto social entre esquerda e direita radicais, etc. Como sabemos, o conflito político tornou-se crescentemente mais multidimensional.

O terceiro é desconsiderar que a polarização não se reduz a questões programáticas. Dados para os EUA mostram certa estabilidade no posicionamento de democratas e republicanos em relação às políticas públicas, mas mudança radical na forma em que percebem uns aos outros.

A divergência no Brasil também é mínima: envolve posse de armas e educação sexual.

A polarização tornou-se afetiva, assentando-se em emoções negativas (desconfiança, desprezo, aversão) dirigidas a grupos políticos rivais.

A métrica mais comum para medi-la é a diferença entre os escores de simpatia para seu próprio partido e rejeição quanto aos rivais.

Embora concordem em relação às políticas, crescentemente abominam a possibilidade que seus filhos casem com adversários políticos.

A geometria política não é simplória.

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