Maria Hermínia Tavares

Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

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Maria Hermínia Tavares

Na ONU, o Brasil volta a si

Lula reiterou posições clássicas da nossa diplomacia e elencou prioridades novas.

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Quem se der ao trabalho de comparar o discurso do presidente Lula na abertura da Assembleia-Geral da ONU, na terça-feira (19), com o pronunciamento de Jair Bolsonaro na mesma tribuna quatro anos atrás, será recompensado com uma tripla dose de alívio. Pela voz do seu chefe de governo, o Brasil voltou à antiga forma: falou bem, foi digno e ambicioso na justa medida.


Aquela reunião anual não é foro para decisões. É um ritual em que, por se fazer representar à altura do evento, os seus 193 estados-membros reafirmam a adesão ao multilateralismo; compartilham a sua visão do estado do mundo; explicam as suas escolhas em política externa e marcam posição diante das decisões coletivas a tomar.

19.09.2023 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante abertura do Debate Geral da 78º Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas.Sede das Nações Unidas, Salão da Assembleia Geral, Nova York - EUA. Foto: Ricardo Stuckert / PR
Lula abre a 78º Sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York - Ricardo Stuckert/PR


Nos 21 minutos em que se fez ouvir, o líder brasileiro falou dos princípios que orientam a ação internacional do país; das prioridades que deveriam nortear as nações ali reunidas; das urgentes reformas institucionais para ressuscitar as organizações do sistema ONU à beira da irrelevância.

Lula reiterou posições clássicas da diplomacia brasileira –mas também elencou prioridades novas. De um lado, tratou de temas que de há muito configuram a identidade internacional do país: defesa da democracia; busca de soluções pacíficas para os conflitos; demanda por reforma das organizações multilaterais a fim de dar mais voz aos países intermediários –em especial por meio da ampliação de seu espaço no Conselho de Segurança e nos órgãos de governança econômica do FMI e do Banco Mundial.

Lula durante discurso na ONU - Reuters

De outro lado, deu promissora importância à agenda ambiental e à maneira como ela deveria se entrelaçar com a meta maior de redução das desigualdades. Assim, reafirmou a disposição de cumprir, no prazo estipulado (2030), os 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) definidos pela ONU e que dão corpo à convergência daqueles dois objetivos. Sem esquecer da reativação do Tratado de Cooperação Amazônica e da interlocução entre os países com extenso patrimônio florestal.

Para atestar os compromissos do seu governo com a agenda ambiental, falou do Plano de Transformação Ecológica, fruto da cooperação entre os Ministérios da Fazenda e do Meio Ambiente –e destinado a mudar o rumo das políticas de desenvolvimento. Invocou o princípio das responsabilidades comuns e diferenciadas na proteção do planeta, cobrando das nações ricas o financiamento das políticas ambientais das mais pobres.

O ambicioso pronunciamento é uma carta de princípios que ultrapassa o que o país pode fazer de fato.

Trunfo para valer só na agenda ambiental. É aí que se poderá ancorar um protagonismo que vá além da oratória.

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