Recorrer ao Crédito Direto ao Consumidor (CDC) e a empréstimos consignados, sem dúvida, é bem melhor do que usar o rotativo do cartão de crédito. Mas não devemos transformar as prestações do CDC e do consignado em dívidas permanentes para complemento da renda. Mesmo com Custo Efetivo Total (juros, taxas e encargos) mais acessível, estes débitos podem contaminar o orçamento familiar.
A palavra crédito, em finanças, significa originalmente a confiança de receber de volta o dinheiro emprestado. Estes compromissos financeiros deveriam ser medidas excepcionais, motivadas por doenças, desemprego ou necessidade urgente de adquirir um bem ou serviço.
Mais de 24% das famílias no Brasil tinham contas em atraso no último mês de maio, segundo a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). E 68% estavam endividadas, o maior nível da série histórica iniciada em 2010. Uma situação que, obviamente, se agravou com a pandemia de coronavírus, e com a aceleração do desemprego desde 2015.
Outro fator que pesa é o achatamento da renda. Matéria desta Folha em abril último mostra que 80% das famílias com rendimento mensal acima de cinco salários mínimos perderam renda no quarto trimestre de 2020 em relação a igual período do ano anterior. Os dados são da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, compilados pela consultoria IDados.
Desemprego, queda da renda e endividamento compõem um círculo vicioso. Além do sofrimento das pessoas diretamente atingidas, atrasam a recuperação da economia.
Não bastassem as dificuldades que levam milhões de brasileiros a recorrer ao consignado, há também que lidar com empréstimos contratados sem autorização do cliente. As reclamações sobre esta prática aumentaram 266% no primeiro quadrimestre de 2021, em relação a igual período do ano passado, no portal Reclame Aqui. No Procon-SP, em janeiro deste ano, as reclamações sobre o consignado cresceram 206% em relação ao registrado neste mês em 2020.
Quem já contratou este tipo de empréstimo uma vez, recebe uma avalanche de mensagens pelo WhatsApp e email, oferecendo dinheiro. No mínimo, uma chateação em série.
E idosos têm sofrido, também, com os golpes do consignado, em que criminosos simulam ligar do INSS, e solicitam documentos para forjar um empréstimo.
Portanto, além de não usar o CDC e o consignado para aumentar sua renda —pois têm juros e prazo para quitação—, só faça este tipo de transação com o banco em que tem conta-corrente, para não ser alvo de golpistas. O que pode ser uma boa saída para determinadas dificuldades financeiras não deve se tornar hábito.
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