Maria Inês Dolci

Advogada especializada na área da defesa do consumidor.

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Maria Inês Dolci
Descrição de chapéu Folhajus

Brasil precisa criar supermercados com foco social, como na Suécia

Rede Matmissionen vende alimentos por um terço do preço de mercado

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Nas últimas semanas, tem havido crescente interesse pela movimentação no segmento de atacarejos (misto de atacado e varejo), com investimentos, abertura de lojas e expansão de redes estaduais e regionais para outros estados. Realmente, é um cenário que interessa à classe média, que ainda pode fazer suas compras de mercado, mesmo que optando por produtos mais baratos, sem privilegiar marcas.

Considerando, porém, que as classes D e E concentram mais da metade dos brasileiros, seria urgente criar por aqui algo como os supermercados com foco social, como o Matmissionen, da Suécia.

É interessante que uma rede como a Matmissionen, voltada a pessoas com risco de pobreza (que ganham menos de 60% da renda média nacional), tenha surgido na rica Suécia, não no Brasil, em que mais de 30 milhões de pessoas passavam fome até o início deste ano (não encontrei números atualizados após o relançamento do Bolsa Família).

Essa rede consegue cobrar bem menos (um terço do preço de mercado) porque recebe doações de empresas de alimentos. São produtos perfeitamente comestíveis, mas prestes a ser descartados por algum motivo.

Os membros dos supermercados Matmissionen pagam um terço do preço original dos produtos
Frutas em um supermercado da rede Matmissionen, que vende produtos por um terço do preço normal - Anna Z Ek/Matmissionen/Via BBC

Há também iniciativas como o projeto The Real Junk Food, no Reino Unido (lanchonetes, lojas e armazéns), que recebe alimentos ainda bons que seriam jogados fora e os oferece às populações vulneráveis, que pagam o valor que determinarem. Ou seja, o que puderem e quiserem pagar.

Estima-se que 30% dos alimentos sejam desperdiçados no Brasil, da produção ao consumo. Haveria, portanto, grandes possibilidades de criação de supermercados e lanchonetes sociais, que evitariam o descarte de alimentos ainda apropriados ao consumo, mesmo que sem a aparência e a estética costumeiramente exigidas pelos consumidores com mais renda.

Entrou em vigor em Portugal, no mês passado, medida que isenta de IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado) 46 alimentos considerados essenciais, como pão, batata, massas, arroz, leite, iogurtes, algumas frutas, legumes e vegetais.

Também seria boa providência adotar as recomendações da Oxfam (confederação internacional de organizações e parceiros que atua em mais de 90 países, em busca de soluções para pobreza, desigualdade e injustiça): produzir a comida sem sofrimento humano, pobreza, discriminação de gênero, péssimas condições de trabalho e salários de fome.

Pode ser que essas sugestões pareçam ingênuas em um mercado tão concorrido. Mas comida é um bem essencial, hoje, agora e sempre. Mas os preços dos alimentos são sujeitos a elevação por diversos fatores, como as vendas de commodities para dezenas de países, guerras, pandemias e outras situações semelhantes. Para os mais pobres, comer bem é um desafio difícil de ser superado.

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