Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

Saudade da Dilma

Sempre fui contra o impeachment, justamente porque queria evitar esse momento patético que estamos vivendo

Rio de Janeiro

Sempre fui contra o impeachment de Dilma, justamente porque queria evitar esse momento patético que estamos vivendo. A tal concretização do golpe na cabeça de parte da população com a prisão de um ex-presidente. Tivemos showmissa em homenagem a uma morta que mal foi lembrada, um condenado em segunda instância negociando com a PF os termos de sua rendição, uma polícia acovardada (não entendo como não havia um planejamento melhor do que “me diz quando você quer”), um país inteiro dividido não em duas, mas em muitas partes.

E tudo isso para dar de cara com uma militância esvaziada, mas que faz barulho, queima pneus e ataca prédios públicos, agride jornalistas, manda para o hospital antagonistas de suas crenças.

Lula está tão mal assessorado nesse momento, cercado de gente de baixo calibre quanto Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias, que não tem noção da realidade que o cerca. O PT ameaçava uma revolução popular, se Lula fosse preso, mas, tirando a quadra em torno do Sindicato dos Metalúrgicos, as ruas do país inteiro continuaram vazias. Mesmo a pequena multidão que se aglomerou em São Bernardo era menor que o público em uma quadra de escola de samba em dia de apuração.

Um colega da imprensa teve o trabalho de aproximar a foto tão celebrada em que Lula é “carregado nos braços do povo” e circulou todos os que eram fotojornalistas e seguranças. É quase triste contar isso, mas sobrou pouco povo para tanta gente que estava ali apenas a trabalho.

Uma coisa não se pode negar, a presidente do PT, que quase sempre esqueço exerce o cargo de senadora, é habilidosa em deixar a bola quicando. Convocou a militância pobre e ignorante para fazer vigília em torno da Polícia Federal, em Curitiba. Enquanto o povo dorme no chão e come comida requentada em fogareiros, Gleisi descansa em berço esplêndido. Fazer vigília com o sacrifício dos outros é maravilhoso.

Sem falar em Dilma, que pegou o primeiro avião e está em Madri, denunciando a “prisão política” de Lula, dizendo que “vivemos sob uma emergência de extrema-direita”. A verdade é que ninguém mais presta atenção no que a ex-presidente fala, a não ser pequenas audiências que matam a saudade do Brasil gritando “golpe”.

Como se não bastasse, a senadora Gleisi, que mais viaja do que zela pelos interesses do brasileiro, resolveu incluir Lula em seu nome parlamentar, seguindo iniciativa adotada por vereadores de São Paulo e da bancada de deputados do partido na Câmara. Lindbergh que não é bobo e não perderia esse tipo de chance de aparecer fez a mesma coisa. E a gente aqui achando que fazer lei para mudar nome de rua era o máximo da estupidez que eles poderiam chegar.

Como resposta, parlamentares favoráveis à Lava Jato pediram para incluir Moro em seus nomes e já tem, claro, quem viu no momento a oportunidade de homenagear a extrema direita. O Capitão Augusto passou a ser da “família” Bolsonaro. Não parece um esquete do Casseta&Planeta?

Pelos requerimentos, os nobres congressistas sequer conhecem o regimento das casas onde legislam. A presidente do PT pediu que seu nome seja registrado como Gleisi Lula Hoffmann, o mesmo modelo seguido por Lindbergh. No Capítulo I, art. 7º, que trata da posse dos senadores, diz que “do nome parlamentar não constarão mais de duas palavras”. Ou seja, é tempo e dinheiro gastos para pagar assessores para fazer esse tipo de pataquada. Dinheiro do contribuinte.

Nosso Congresso é ou não um jardim de infância?

“E o Aécio?” A pergunta ganhou contornos ainda mais dramáticos. Segundo os seguidores da narrativa do golpe o “grande problema agora do judiciário é conseguir um bode expiatório no PSDB que não afete muita gente”. Tem também “a direita vai se contentar com um boi de piranha do MDB”.

Adeptos do mantra do “grande acordo com Supremo, com tudo” vem produzindo essas pérolas nas redes sociais. Continuam a cobrar os paneleiros quando eles mesmo poderiam ir às ruas pedir a cabeça de políticos que consideram intocáveis por causa de uma “justiça seletiva”. Poderiam queimar pneus contra o foro privilegiado. Fazer vigília na porta do STF na votação que pode tornar Aécio Neves réu. Protestar contra a transferência de Sérgio Cabral para Benfica.

Mas não, seguem atrás de seus celulares se colocando como detentores do monopólio das grandes virtudes, acusando todos os outros de estarem no lado oposto, como se todo mundo (os fascistas) agora achasse que “adeus, corrupção” e fosse celebrar, bebendo cerveja num puteiro.

Saudade da Dilma.

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