Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

Resolução para 2019: deixar de ser trouxa

A falta de êxito nas minhas empreitadas se parece com a da maioria das pessoas por um único motivo

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Festa da virada teve 5 mil baterias de fogos na Avenida Paulista
Festa da virada teve 5 mil baterias de fogos na Avenida Paulista - Divulgação

Há algum tempo desisti das resoluções de fim de ano. Ao longo da vida percebi que a única coisa que realmente consegui realizar com afinco foi falhar miseravelmente em todas as metas a mim impostas. Guardar dinheiro: derrota. Fazer atividades físicas: derrota parcial. Beber menos álcool e mais água: derrota vergonhosa. Não tretar na internet: derrota, apesar de boa evolução. Não ser ansiosa: derrota com louvor. Dormir mais cedo: aiai, que vergonha.

A falta de êxito nas minhas empreitadas se parece com a da maioria das pessoas, por um único motivo. A gente é trouxa. Somente nós, os trouxas, para tomarmos tantas atitudes estúpidas que são capazes de nos prejudicar, nos deixar infelizes e frustrados com nossa falta de habilidade para cuidar da pessoa que mais merece atenção e prioridade: nós mesmos.

Os trouxas são, no fundo, seres de bom coração que acreditam num mundo justo, onde todo mundo faz a sua parte e assim os astros, a energia, o universo, as filas no banco e no trânsito, a velocidade do 4G, vão magicamente se organizando e tudo começa a entrar nos eixos. Mas a vida não é justa. A vida é uma grande de uma filha da puta. O que não significa que precisamos nos juntar ao cordão dos babacas, dos puxa-sacos, dos oportunistas. Essa gente que parece sempre se dar bem, mas no fundo sabe que é embuste.

A gente só precisa deixar de ser trouxa. Sem perder a ternura, claro. É a única resolução a qual estou disposta a me comprometer. A cada virada de calendário prometo que serei mais saudável, mais pontual, mais fiel a prazos, que gastarei apenas o que tenho, que vou reciclar todo o lixo, inclusive o orgânico, que lerei mais, ficarei menos tempo nas redes sociais, que vou dormir cedo, que tomarei mais água. Todos os anos, a trouxa que habita em mim boicota meus planos e, além de não fazer nada a que me propus, chego em dezembro me sentindo fracassada e muito pamonha por não ser uma pessoa melhor comigo mesma. Ao deixar de ser trouxa, a vida não tem como não melhorar.

Deixamos de acreditar em promessas de amor, de chefes e de políticos. Não necessariamente nessa ordem. Lidamos com fatos e não com a vontade de que o mundo seja como gostaríamos. Entendemos que fazer a coisa certa, que é investir em mais qualidade de vida, ter mais tempo para as pessoas de quem gostamos, cuidar com mais carinho do corpo e da cabeça não deveriam ser sacrifícios, que só são incorporados em nossa rotina mediante a assinatura de contratos imagináveis, que nunca são honrados.

A vida, nem sempre, precisa ser melhor. Se for honesta, já está de bom tamanho.

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