Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

O amor é brega

Esse dia de tchururu comercial pode também ser infernal

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Sempre achei Dia dos Namorados uma coisa meio brega, meio opressora e bem chata. Por causa da obrigação de ter namorado, de comprar presentes, de sair pra jantar e de fazer sexo. Calha que a data cai num daqueles dias em que você não está com a mínima vontade de ser sexy e que tudo o que quer é vestir uma calçola de vó, um moletom com estampa da Peppa Pig e se encolher no sofá. 

Peppa tem uma razão de ser. Aprendi com o tempo que se queria evitar clima de romance tinha que fugir de roupas com motivos de super-heróis e do Star Wars, por exemplo. Um moletom com a cara do Darth Vader, mais um par de meias e gorro já me fizeram acabar em maus (ou bons?) lençóis porque meu namorado, na época, entendeu que eu estava bancando a nerd taradona e adorou a brincadeira. Ok, foi divertido, mas entendi que quando a pessoa te quer não há calçola de vó que impeça. Por outro lado, Peppa Pig é infalível.

 

Esse dia de tchururu comercial é também infernal para quem vive aquele tipo de relacionamento “não trepa mas não sai de cima”. Você está há dois meses com o cara, já tem kit dental na casa do fulano e vice-versa, mas não sabe se já pode chamar de “conje”. Some e mente que dormiu durante dois dias ou que foi atropelada e perdeu a memória? Aguenta firme o constrangimento do cara desaparecer e voltar como se tivesse ido na esquina comprar cigarro? Chama na chincha e pergunta “e aí, é namoro ou amizade?” Sem falar daqueles que dão perdido só para economizar no presente e voltam logo depois querendo biscoito. Dá pra lidar com um moço que não sabe se quer compromisso, algumas vezes também não queria, mas mão de vaca não rola. Próximo.

E, sim, Dia dos Namorados pode ser muito opressor. Pode nos fazer pensar em coisas que não queremos ou pelo menos não temos pressa. Por que estou sozinha? Por que minhas histórias não deram certo? Deram certo, então, por que acabaram? Terei um dia uma relação bacana? O que preciso mudar? Será que preciso mudar? Quero mudar? Será que preciso ter alguém? Talvez não.

Olha como a vida é. Em duas das melhores lembranças que tenho do 12 de junho, eu estava sem ninguém. Há uns dez anos, a cidade naquele clima de celebração do amor, lojas decoradas, restaurantes lotados. Poderia ter me incomodado, mas percebi que estava bem feliz sozinha. Sem namorado, aproveitando a vida, beijando na boca, me permitindo. 

O que eu fiz? Entrei numa loja e comprei um anel lindão, meio caro para o meu bolso. Parcelei a perder de vista e desfilei muito plena com o símbolo do caso de amor que eu vivia comigo naquele momento. 

Na segunda vez, tinha acabado de me mudar para o Rio, morava num flat xexelento e por nada do mundo ficaria trancada dentro de casa. Sentei sozinha num boteco, pedi chopp, uns bolinhos gordurentos, observei os casaizinhos, uns apaixonados, outros entediados. Brindei a vida que tinha e pedi que se fosse para aparecer alguém, que valesse a pena, porque, né?! Antes só do que mal parada. Ser solteiro faz parte da vida. Não há nada de errado com isso, embora muitas vezes a gente se convença de que precisa de alguém para ser feliz, mesmo que só sinta falta da presença de um estranho quando precisa abrir um vidro de palmito.

Nem um mês depois, um moço muito bacana colocou um sorriso no meu rosto, um amor no meu coração. Hoje, quando acordei, passados quase sete anos, olhei você dormindo tão sereno, do jeito que eu me sinto quando penso que sou sua namorada. E está liberado ser brega, pelo menos neste dia, porque se for para ser blasé é melhor ficar sozinho.

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