Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Nunca foi tão difícil pegar gente que preste no Carnaval

Existe uma linha bem clara que separa o que é assédio e importunação sexual da paquera

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O Carnaval nem chegou direito e olha o que temos.

De um lado, um deputado (Jessé Lopes – PSL/SC) que acha que mulher gosta de ser assediada e que shortinho, sainha e decote são convites para estuprador.

Por que, né? Quem não gosta de ser encoxada, ser perseguida, levar passada de mão na bunda, puxão de cabelo, de gente desconhecida? Segundo o parlamentar, só as frustradas que não são assediadas nem em frente à construção.

Do outro lado, circula nas redes sociais post com dicas de cantada para não bancar o “macho esgoto”. Coisas como “você tem uma perspectiva das coisas sempre muito interessante” ou “você faz o mundo um lugar melhor só por existir nele” ou ainda “você tem uma luz inexplicável”. Nem Corote dá tanta vontade de vomitar. Isso é mais eficaz do que a política de abstinência da Damares.

Pré-carnaval do Acadêmicos do Baixo Augusta com os blocos Forrozin e o Cordão Carnavalesco Confraria do Pasmado
Pré-carnaval do Acadêmicos do Baixo Augusta com os blocos Forrozin e o Cordão Carnavalesco Confraria do Pasmado - 17.fev.2019 - Danilo Verpa/Folhapress

Como eu sempre digo, se organizar direitinho, ninguém mais transa. Não é possível que só existam as opções “troglodita” e “macho xarope” no mercado do rala e rola.

Você foge do cara que acha de boas arrancar um beijo na marra e sobra o poeta sensível (e sem talento). Nunca foi tão difícil pegar gente que preste no Carnaval e namorar pelado.

A expectativa para 2020 era poder sair de topless na folia, sem que alguém ache que é convite para um estupro.

A realidade é ter que explicar que existe uma linha bem clara que separa o que é assédio e importunação sexual da paquera.

E essa linha é o “NÃO”. A mocinha saliente e rebolativa disse não? Vaza. A mocinha saliente e rebolativa e com a peitola de fora não respondeu aos seus olhares? Não, ela não está se fazendo de difícil. Vaza. Mas ela estava saliente e rebolativa. Sim, a saliência e o rebolado têm outro endereço —ou nenhum. Vaza. E os peitos de fora? Só autoestima. Ou calor. Vaza. Mas só um beijinho. Vaza.

Mulher, a maioria, gosta de paquera, de xaveco, de beijo na boca, de esfregação, de putaria. Gosta que o outro olhe, que vire o pescoço, que puxe papo, que seja sedutor, que o papo vire cerveja, que a cerveja vire beijo na boca, que o beijo vire mão naquilo, aquilo na mão, aquilo naquilo e naquele outro.

Me beija, me dá like, me retuíta. Mulher só não gosta de nada disso se não dá mole, abertura, intimidade. Quando fica acuada, vulnerável, insegura. Não insista.

Quando a mulher tem interesse, não precisa puxar pelo braço, pelo cabelo, agarrar pela cintura, roubar beijo.

Também não adianta vir com xaveco melado nem com papo furado. Mulher quando gosta, vai. Vai como num encanto, por encanto, quando se encanta. Não tem mistério.

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