Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mariliz Pereira Jorge

Quer saber o que é mais chato do que campanha Não é Não?

É chato, muito chato, aquela forçadinha da perna para o lado, da blusa para cima, de mão dentro da calça

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Li por aí que tem gente que não aguenta mais campanha de “não é não”. É chato mesmo. É chato ter que falar sobre o mesmo assunto. É bem chato.

Mas sabe o que é mais chato do que as campanhas de “não é não”? É ter que repetir a exaustão que “não é não”. É muito chato ter que falar o óbvio. É chato demais que ainda não tenham entendido algo tão simples. É chato ter que conviver em 2020 com uma parte da ala masculina que ainda vive na era do tacape e da caverna.

É chato pracaralho ter que pensar com que roupa vou, onde vou, com quem vou, a que horas vou, porque sempre haverá alguém que acha que estou a fim mesmo que eu diga “não”, por causa da minha roupa, se bebi, do quanto bebi, do jeito que dancei, no lugar que estou, porque são duas da tarde ou duas da manhã.

É chato ter que aprender a respeitar o outro, ainda mais quando o outro é só uma mulher com pouca roupa no meio de uma festa danada, não é mesmo?

Folders de campanha contra assédio às mulheres - André Coelho/Folhapress

Mas sabe o que é mais chato? É ser puxada pela cintura, pelo cabelo, pela roupa, pela bolsa, como se a gente não fosse capaz de andar com nossas próprias pernas em direção do “sim” ou do “não”.

É chato, chato pra caracoles, levar passada de mão na bunda, encoxada, lambida, dedada, no meio da multidão, numa rua escura, num bar iluminado, no canto de uma festa ou no centro dela. É chato, muito chato, aquela forçadinha da perna para o lado, da blusa para cima, de mão dentro da calça.

É chato explicar que um beijo bem dado, se vem acompanhado de um “não” sonoro ou apenas sinalizado com o corpo, não é meio caminho andado. Um corpo fala e se ele não diz “sim” é porque é “não”.

É chato ter que falar que mulher pode mudar de ideia no meio da conversa, do beijo, no caminho do motel, pelada em cima da cama. É muito chato.

Quer saber o que é muito, mas muito mais chato do que campanha de “não é não”? É ser chamada de puta apenas por recusar um xaveco, por reclamar de ser puxada pelo braço, por não dar espaço para investida, por não responder à cantada idiota.

É chato, muito chato, ser xingada de baranga, de gorda, de qualquer coisa, apenas por dizer “não”. É chato aguentar homem folgado, bêbado, assediador, machista. É muito chato. Você não tem ideia do como é revoltante, é repugnante, é cansativo, é triste. Chato? Chato é pouco.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.