Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

O Índice Bacio di Latte

Marca de sorvete estilo italiano está no centro de uma polêmica cretina

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Depois do "Índice Big Mac", criado em 1986 pela The Economist para comparar o poder de compra entre países, o tuiteiro inventa o "Índice Bacio di Latte". A marca de sorvete estilo italiano está no centro de uma polêmica cretina, mas que mostra o nível da indigência intelectual presente em muitas discussões sobre desigualdade e racismo.

Uma usuária do Twitter compartilhou a foto de cinco potes da sobremesa, presentes do seu pai, e detonou uma avalanche de comentários sobre desemprego, fome, abandono paterno, privilégios. O campeão foi esse aqui: "Um pai que desembolsa R$ 300 em sorvete para a filha é provavelmente quem açoitou meu bisavô no passado".

Cinco potes de sorvete da Bacio di Latte
Sorvetes que a Catharina Lima ganhou do pai e postou no Twitter; outros tuiteiros a acusaram de ostentação - Reprodução

Você deve pensar que são exceções dentro das bolhas das redes. Não são. Esses espaços abrigam debates e vozes importantes sobre questões sociais, mas também radicais barulhentos, que erguem muros entre pessoas e ideias, afastam aliados das causas e transformam as lutas por igualdade em caricaturas.

"O que mata a gente é o fanatismo e a cegueira. Deixou de entender o povão, já era". Lembra-se disso, caro leitor? É parte do discurso memorável de Mano Brown no comício do então candidato Fernando Haddad, em 2018. O rapper se referia à falha de comunicação do PT, que não conseguia mais "falar a língua do povo". Sabemos o fim dessa história.

Há muitas camadas na fala que ainda ecoam, quase quatro anos depois. Uma delas é justamente sobre o fanatismo e a cegueira presentes nos movimentos identitários, importantes alicerces do campo progressista. Já antes do pesadelo Jair Bolsonaro, vimos efeito contrário nas ações e falas que deveriam criar empatia e conscientização, mas geram distanciamento e, às vezes, ojeriza.

Não adianta os partidos de esquerda moderarem o discurso enquanto a militância vê num pote de sorvete sinais de racismo ou de desprezo pela miséria. Enquanto isso, Bolsonaro se recupera nas pesquisas.

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