Na semana passada, o presidente Lula recebeu uma turma de artistas e influenciadores, a primeira reunião de muitas, segundo Janja publicou em suas redes. O movimento em relação à classe artística, maltratada por Jair Bolsonaro, parecia correto. Entre os influenciadores havia perfis que representam minorias, não menos demonizadas pela gestão passada.
Mas na pauta do encontro não foram abordados, por exemplo, investimento em cultura ou ações para proteger a comunidade LGBTQIA+. Houve uma apresentação institucional do governo, com a seguinte agenda: "sua participação não acaba nas eleições –vamos povoar as redes; como disseminar informação e combater desinformação". Ora, ora.
Ingenuidade dos presentes engrossar a audiência de um evento que se tratava de um afago do governo para garantir a própria milícia digital? (Do bem, mas milícia). Alguns dos presentes, no entanto, segundo relatos, se queixaram da falta de "direcionamento", houve sugestão de "lives periódicas", sim, como aquelas feitas por Bolsonaro, "controle de narrativas". Ora ora.
Janja teria dito que as iniciativas devem ser livres. Concordo com ela, mas vou além. A relação promíscua entre o governo Bolsonaro e os ditos influenciadores de direita foi um dos elementos mais nocivos à democracia. Dezenas de canais ganharam projeção, fizeram dinheiro com a monetização de fake news e o apoio indiscriminado. A gestão passada distribuiu dinheiro entre simpatizantes do bolsonarismo para exaltar iniciativas criminosas. Gabinete do ódio e parlamentares faziam a engrenagem da propaganda política rodar, mantendo a milícia digital abastecida de pautas.
Qual a diferença do que se propõem os influenciadores de esquerda? Por melhores que sejam as intenções, formadores de opinião, preocupados com a democracia, deveriam manter a independência e o olhar crítico sobre qualquer governo. Falar de política exige responsabilidade, isenção, distanciamento, desapego. Ora, ora.
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