Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Descrição de chapéu Todas Barbie

Quanto custa uma mulher?

Mercado explora de forma escancarada o consumo feminino

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Você tem ideia de quanto custa uma mulher? Caro. E não estou falando de sexo. Também não me refiro a perfis consumistas que gastam com coisas desnecessárias, inclusive porque cada um deve gastar como quiser. Quem sou eu, que adquiri uma peruca de anime japonês para uma festa de Carnaval, para julgar como as pessoas usam seu dinheiro? Tampouco se trata de uma crítica a gente esbanjadora —ou só rica— que coloca o nome em fila de espera de uma bolsa com preço de casa popular. Eu mesma já gastei uma quantia escandalosa para comer num restaurante no Japão.

É sobre como o mercado explora de forma escancarada o consumo feminino, manipula inseguranças, cria falsas necessidades, enaltece padrões de beleza e de status social inatingíveis, para no final vender produtos mais caros apenas porque são direcionados a esse público. Muito antes de Barbie virar assunto e treta no Oscar, Pink Tax, ou taxa rosa, já descrevia a estratégia de inflacionar bens e serviços apenas porque são destinados a mulheres. Mas por que estamos falando sobre isso agora?

Eu me lembrei da história recente da consumidora que procurou uma cabeleireira para fazer cabelo e maquiagem. A profissional perguntou se ela era noiva e recebeu uma negativa. Disse que queria apenas o "normal". Dias depois, a profissional foi às redes denunciar que havia sido enganada, ao dar de cara com fotos da cliente toda pimposa em trajes de casamento. A maquiadora alega que oferece atendimento com mimos personalizados e que usa produtos de melhor qualidade. A cliente diz que não queria nada disso. O Código do Consumidor diz que ninguém é obrigado. Fim de história, mas começo de uma discussão importante.

Durante muito tempo acreditei que lâminas cor-de-rosa eram muito melhores para meu sovaco delicado do que aquela que faz o tchan tchan tchan tchan e paguei, claro, mais por isso. Podem dizer o que quiser, que tem aloe vera, que clareia a pele, que tem curvatura diferenciada. Tecnologia é tecnologia. Não há explicação para que mulheres paguem mais por um produto que tem uma única finalidade, exterminar pelos.

Homem segura uma bolsa amarela que se assemelha a um saco de pão e onde se lê "Louis Vuitton"
A bolsa da Louis Vuitton para a qual já há lista de espera - Divulgação

Mas a lâmina é só a ponta do problema. Roupas, artigos de higiene, brinquedos, corte de cabelo, manutenção de equipamentos, serviços de lavanderia estão na lista. Em média, produtos para o gênero feminino são 12,3% mais caros, segundo uma pesquisa da Escola Superior de Propaganda e Marketing. Ao nascer, meninas já pagam 20% a mais por roupinhas de bebê só porque são meninas.

O assunto é pouco discutido por aqui, enquanto nos EUA há estados com leis que proíbem essa disparidade de preço para produtos similares. O departamento de proteção ao consumidor da cidade de Nova York produziu, em 2015, seu primeiro estudo sobre os preços e o resultado foi que as mulheres tinham desvantagem em 30 categorias, nas quais os bens e serviços custavam até 42% a mais.

Há diversas alegações para sustentar o "custo mulher", a maioria é clara exploração de gênero, além de produtos taxados com percentuais elevados, muitos de necessidades básicas. Ou seja, não se trata de escolha. Não dá para simplesmente dizer, não compro mais absorventes, não irei ao cabeleireiro, não farei reposição hormonal, não tratarei minha enxaqueca, não, não, não. Todos os meses me pergunto, aonde vai todo meu dinheiro? E eu estou longe de ser "cara". Tem que ver isso aí. Não é a mulher que precisa se privar, mas o mercado é que deveria se adaptar, ser mais justo e acessível.

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