Lula vai precisar de muito mais do que "chá de camomila" para se posicionar sobre a situação na Venezuela. Seria bom que assumisse de vez que avaliou mal o governo de Nicolás Maduro e de que o país vizinho não é "vítima de narrativa de uma antidemocracia e autoritarismo". Para começar, reconhecer que o venezuelano é protagonista dessa crise, que as eleições foram fraudadas, que o nome do que acontece no momento é golpe de Estado.
É bom lembrar que Lula recebeu o venezuelano, que não pisava no Brasil desde a posse de Dilma. Pouco mais de um ano depois de ter assumido a Presidência, de ter enfrentado uma quase tentativa de golpe, o presidente brasileiro estendeu o tapete vermelho a um ditador, contrariando um movimento de parte da esquerda da América Latina que passou a condenar a ditadura.
Um encontro bilateral antecipado foi arranjado durante reunião de líderes sul-americanos, o que foi lido como desfeita por outros convidados, exatamente pelo status que Maduro tem na região. Mas Lula insistiu em ignorar as acusações feitas pela Anistia Internacional, Humans Rights Watch e ONU, que denunciam a violência estatal usada pelo ditador para se manter no poder, por meio de sequestros, prisões, estupros e execuções de opositores, civis, sindicalistas e jornalistas.
No encontro com Maduro, além da puxação de saco e das baboseiras sobre as sanções econômicas impostas ao país, Lula disse que cabia a ele construir a sua "narrativa" e que "os nossos adversários terão que pedir desculpas pelo estrago que fizeram à Venezuela". A narrativa está aí, cai quem quer. O PT, por exemplo, que em nota disse que o processo eleitoral foi "pacífico e democrático". Contrariando as projeções, Maduro diz que venceu as eleições, mandou prender opositores, já são pelo menos seis mortos nos protestos. Lula deveria estar muito "assustado" e ser ele a se desculpar por ter deixado um ditador se criar no nosso quintal.
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