Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Descrição de chapéu
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Chutar o gato pode; perder o jogo, não

Clube protege zagueiro que apareceu em vídeo maltratando animal

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As imagens são chocantes. Um homem forte de 1,90 m de altura entra na cozinha da sua mansão com um gato no colo. Solta o animal e o chuta na barriga, como se fosse uma bola de futebol. O bicho, indefeso, voa longe.

A crueldade continua na sala. O mesmo homem corre atrás do animal e arremessa um tênis nele. Em seguida, dá um tapa forte na cabeça do gato enquanto uma criança o segura. Mais uma vez, ele foge desesperado. O tempo todo, ouvem-se risos ao fundo. Emojis de rostos gargalhando aparecem na tela.

O cidadão em questão se chama Kurt Zouma, zagueiro do West Ham. Se quiser procurar o vídeo na internet, tenha cuidado antes de assistir. As cenas, supostamente feitas pelo irmão do jogador e compartilhadas numa rede social, são de embrulhar o estômago.

Quando o tabloide The Sun noticiou o caso no início desta semana, a repercussão negativa, claro, foi imediata. A polícia começou a investigar, e uma petição online pedindo que o zagueiro francês seja processado já tem mais de 280 mil assinaturas. Mais do que uma imbecilidade, esse tipo de crueldade é contra a lei. No Reino Unido, quem maltrata animais pode pegar até cinco anos de prisão.

O zagueiro Zouma tem sido duramente criticado - Tony Obrien - 8.fev.22/Reuters

Zouma seguiu o roteiro da pessoa pública que fez algo errado e depois percebeu que pegou mal: pediu desculpas, disse que os dois gatos são amados pela família, que este foi um ato isolado que não vai mais se repetir. Muito difícil de acreditar.

É impossível não imaginar o que já pode ter acontecido com esses animais quando ninguém estava filmando. Além disso, compartilhar o vídeo nas redes sociais e pensar que alguém mais poderia achar aquilo engraçado mostra uma impressionante desconexão com a realidade.

A Adidas já anunciou o fim do contrato de patrocínio com o jogador de 27 anos. Na Inglaterra, torcedores, políticos e representantes de organizações em defesa dos animais demonstraram indignação e pediram até a saída dele do West Ham. A parte mais importante: os gatos, da raça Bengal, estão em um lugar seguro e foram retirados da casa de Zouma.

As cenas dos maus-tratos também geraram revolta na França. A maior organização de proteção a animais francesa quer que o zagueiro não seja mais convocado para a seleção nacional e acionou seus advogados. O código penal permite que um cidadão francês seja processado por atos cometidos em outro país.

Já a reação do West Ham foi aquém do esperado. O clube, por enquanto, protege um de seus atletas mais valiosos. Publicou um comunicado oficial condenando a atitude de Zouma e o multou em 250 mil libras ou quase R$ 1,8 milhão– uma fortuna para a maioria de nós, mas apenas duas semanas de salário do jogador, segundo a imprensa inglesa.

E, no dia seguinte à publicação do vídeo, o que o técnico David Moyes fez? Escalou o atleta como titular para a partida contra o Watford pela Premier League e se justificou dizendo que precisava dos 11 melhores em campo. Ou seja, chutar um gato pode. Perder o jogo, não.

O tiro saiu pela culatra. Zouma foi vaiado quando tocou na bola, e patrocinadores já suspenderam contratos com o clube. O caso cresceu tanto nas últimas horas que executivos do West Ham agora precisam pensar em como vão lidar daqui para a frente com um jogador com uma imagem arranhada que tem contrato até 2025. Uma bela forma de medir o caráter de uma pessoa é pela maneira como ela trata os animais.

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