Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Eriksen quer jogar; cabe a nós, espectadores, apenas apoiá-lo

Pela primeira vez, atleta profissional vai jogar no futebol inglês com desfibrilador interno

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A contratação mais incrível da janela de transferências na Inglaterra não foi a de uma grande estrela nem envolveu somas estratosféricas. Foi a de um jogador querido mundialmente, indo para um clube que não está entre os favoritos ao título, e cuja determinação o fará voltar a campo pouquíssimo tempo depois de uma cena chocante.

Em junho do ano passado, o mundo assistiu consternado ao momento em que Christian Eriksen desabou em campo durante a partida entre Dinamarca e Finlândia, na Eurocopa. Ele sofreu uma parada cardíaca, foi reanimado e, depois, declarou que esteve "morto por cinco minutos". O dinamarquês se recuperou e implantou um cardioversor desfibrilador implantável (CDI), capaz de detectar arritmias e tratá-las por meio de estímulos elétricos.

Eriksen, pouco antes do mal súbito do ano passado - Hannah Mckay - 12.jun.21/Reuters

Como o aparelho é proibido no futebol italiano, Eriksen rescindiu o contrato com a Inter de Milão. Outros países também impõem a restrição, mas no futebol inglês não existe essa regra. Desde o incidente, havia a expectativa se o atleta de 29 anos voltaria a jogar ou se este seria o fim da carreira. Oito meses depois de ter vivido uma quase tragédia, o meio-campo anunciou o retorno aos gramados como reforço do Brentford por seis meses, até pouco depois do fim da temporada inglesa.

A grande motivação de Eriksen é o desejo de jogar a Copa do Mundo do Qatar, que começa em novembro. Com 109 jogos com a camisa da Dinamarca e 36 gols marcados, ele é uma das referências da seleção de seu país.

Quase dá para dizer que será uma volta para casa. Eriksen passou sete anos em Londres, quando atuou pelo Tottenham, antes de mudar-se para Milão. A notícia do retorno à Inglaterra gerou uma enxurrada de mensagens de apoio de torcedores ingleses, do antigo clube e da liga. "É bom te ver de volta na Premier League", escreveu o Tottenham em sua conta oficial do Twitter.

A transição também será confortável no novo clube. O Brentford é treinado pelo dinamarquês Thomas Frank, que era técnico da seleção sub-17 da qual Eriksen fez parte. Também há outros dinamarqueses no time. A equipe londrina ocupa atualmente a 14ª posição na tabela do Campeonato Inglês e, como foi promovida à primeira divisão nesta temporada pela primeira vez na sua história, sofre bem menos pressão do que outros grandes clubes.

Eriksen será o primeiro atleta profissional a atuar no futebol inglês com um CDI, mas não o único no mundo. Há também o caso do holandês Daley Blind, zagueiro do Ajax. Em 2020, Blind desmaiou em campo depois que o aparelho apresentou problemas. Desde então, tem jogado normalmente.

Isso mostra que o equipamento não é infalível, o que traz apreensão natural para algumas pessoas, principalmente para quem já passou por isso. O coração de Fabrice Muamba parou por 78 minutos quando ele sofreu uma parada cardíaca em campo atuando pelo Bolton em 2012. Muamba precisou encerrar a carreira e, dias atrás, declarou que vai ficar nervoso ao ver Eriksen jogando novamente.

Ainda há riscos? Sim. Mas Eriksen quer e pode jogar com segurança, segundo os especialistas médicos que o acompanham. A nós, meros espectadores, não cabe julgar, mas, sim, torcer por ele.

Ainda não há data de estreia do meio-campo no Brentford. Enquanto isso, Eriksen vem dando uma aula sobre alguns pilares do esporte: determinação, resiliência, capacidade de superação. Promete ser um dos retornos mais emocionantes do futebol dos últimos tempos.

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