Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Marina Izidro
Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Procura-se um treinador: mas de onde?

Vagas abertas para alguns dos cargos esportivos mais cobiçados do planeta reacendem a discussão: o treinador tem que ser do próprio país?

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Londres

Procura-se um treinador que "saiba vencer." O anúncio de emprego é real e publicado esta semana pela Federação de Futebol da Bélgica. Na descrição do cargo, o concorrente deve ser "extremamente ambicioso", conseguir "criar um grupo unido e ganhar troféus nas maiores competições."

As inscrições vão até 10 de janeiro. O novo contratado substituirá o espanhol Roberto Martínez, que levou a geração dourada ao terceiro lugar na Copa do Mundo em 2018 mas não teve contrato renovado depois da eliminação na fase de grupos em 2022 da equipe "velha demais", segundo Kevin de Bruyne.

Seja em um departamento de RH na Bélgica, em uma sala de entrevistas no Qatar onde Tite confirmou a saída do cargo, ou na Inglaterra, onde depois da derrota para a França Gareth Southgate afirmou que não sabe se continua no comando da seleção inglesa, a Copa mexe não só com o futuro de jogadores, mas de treinadores também. Como no Brasil, há na Europa um debate acalorado em países que buscam substitutos: o próximo treinador pode ou não ser estrangeiro?

Técnico Roberto Martínez dá instruções para Eden Hazard durante a Copa; ele não teve o contrato renovado após a eliminação da Bélgica na fase de grupos
Técnico Roberto Martínez dá instruções para Eden Hazard durante a Copa; ele não teve o contrato renovado após a eliminação da Bélgica na fase de grupos - John Sibley - 1º.dez.22/Reuters

Na Inglaterra, a discussão é antiga. Uma reportagem do The Guardian de 2007 já trazia no título: "Importa se o próximo treinador da Inglaterra é inglês?" Southgate tem contrato até 2024, boa reputação, mas ao perder nas semis do mundial em 2018, na decisão da Euro em casa ano passado, e não conseguir um troféu, de novo, pediu tempo para pensar.

Com a possibilidade da saída, o alemão Thomas Tuchel e o argentino Mauricio Pochettino aparecem como nomes em potencial. Voltaram lembranças de quando o país foi treinado pelo sueco Sven-Goran Eriksson e pelo italiano Fabio Capello. O ex-jogador e hoje comentarista Jamie Carragher defendeu que o técnico "sempre tem que ser inglês."

A holandesa Sarina Wiegman ganhou a Eurocopa com a seleção feminina inglesa. Na Premier League, os melhores treinadores da atualidade são o espanhol Pep Guardiola e o alemão Jürgen Klopp. Com a seleção masculina, o julgamento é diferente.

Alguns europeus já têm feito escolhas "caseiras." Na Espanha, Luis de la Fuente foi promovido da seleção sub-21 para a principal com a demissão de Luis Enrique. Em Portugal, depois de oito anos no cargo, títulos da Eurocopa e Liga das Nações, Fernando Santos também não resistiu à derrota para os marroquinos, e a imprensa local aponta José Mourinho como possível substituto.

Nesta Copa, os técnicos das quatro semifinalistas nasceram em seus países, mas o da Alemanha também, e o time saiu na fase de grupos. Nenhuma nação venceu o mundial com técnico de fora, mas apenas oito ganharam.

O idioma é uma barreira. Mas no intervalo da partida contra a Argentina, o treinador francês da Arábia Saudita Hervé Renard deu bronca nos jogadores auxiliado por um tradutor e venceu. No caso de seleções com menos tradição, proporcionar aos atletas a experiência de ter alguém com uma nova mentalidade no vestiário, nem que seja para ganhar um jogo importante, pode fazer a diferença.

O debate é válido, só é complexo comparar profissionais que lideraram equipes diferentes, em épocas distintas, em um cargo com tantas variáveis. A capacidade técnica, o quanto ele entende a cultura do país, o momento de uma seleção, não valem mais do que a certidão de nascimento? Não há resposta fácil. No anúncio belga, ter nascido no país não está na lista de exigências do cargo. Uma dor de cabeça a menos para o chefe do RH.

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