Da janela, vejo o Parque Olímpico do Rio de longe. Em uma passagem de férias pela minha querida cidade natal, olhar o complexo me traz lembranças maravilhosas daquele agosto de 2016. Fosse como espectador ou, no meu caso, jornalista cobrindo o evento, éramos privilegiados de estar ali. Ao fim das sessões do judô dava, por exemplo, para andar até o centro aquático e ver Michael Phelps nadar.
Quem gosta de esporte sabe que as Olimpíadas são como um enorme parque de diversões.
Acompanhei de perto desde as obras das arenas até o debate sobre legado. Já havia a preocupação: para que ter um velódromo caríssimo em um país sem tradição no ciclismo de pista? A arena do handebol seria transformada em escolas, como prometido?
Nos anos seguintes, já fora do país, vi à distância alguns daqueles compromissos não sendo cumpridos. Sempre defenderei a realização dos Jogos no Rio, por inúmeras razões. Sei que o parque é usado para eventos. No entanto, seis anos e meio depois, ainda há subutilização, gasto desnecessário de dinheiro público e jogo de empurra de responsabilidades.
Dá para melhorar, por exemplo, a comunicação para turistas e acesso. Enquanto escrevo a coluna, procuro na internet: "visita ao Parque Olímpico". Nada oficial. No site da Riotur, não encontro em português ou inglês um passeio ou informação sobre o Parque Olímpico (há sobre outras regiões olímpicas, mas não o parque).
Várias cidades atraem visitantes para suas instalações olímpicas e o melhor exemplo é Barcelona, cujo modelo dos Jogos inspirou o do Brasil. Por que o Rio não faz o mesmo? Se faz, a divulgação poderia ser mais clara. O parque é em uma zona residencial, longe da praia e de pontos turísticos. Como atrair interesse sem informação? E para chegar de transporte público tem que pegar um ônibus BRT sucateado. Desisto de ir.
Esta semana, o Brasil abriu uma nova porta de oportunidades na área esportiva. O terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva começa em um momento diferente do segundo, quando o país ganhou o direito de receber megaeventos – em 2007, foi escolhido sede da Copa do Mundo de 2014 e, em 2009, dos Jogos Olímpicos de 2016. O foco promete ser na base.
A ministra do Esporte, Ana Moser, tomou posse comprometendo-se com o acesso para todos à atividade física e esporte. O país precisa de políticas públicas, coletar dados para moldar essas metas.
Moser, bronze em Atlanta-1996, ajudou o Brasil a conquistar a primeira medalha olímpica no vôlei feminino, tem experiência em gestão e quer "inverter a lógica que sempre colocou como prioridade o alto rendimento, o topo da pirâmide." Tarefa árdua. No primeiro discurso, afirmou que não se sabe hoje quantas pessoas praticam atividades físicas e esportivas oferecidas por serviços públicos.
O esporte impacta a saúde, a economia e a segurança pública, e o apoio dessas áreas será importante para, por exemplo, diminuir o sedentarismo –ela lembrou que só 30% dos brasileiros eram ativos antes da pandemia e os números pioraram. Tudo está interligado.
É preciso investir na manutenção de praças, ciclovias, campos de futebol, quadras de vôlei, pistas de atletismo. É só um pequeno exemplo.
Que a nova ministra consiga transformar as excelentes intenções em ações, para que futuros atletas e praticantes de atividades esportivas olhem para o Parque Olímpico como fonte de inspiração, não só como uma linda vista da janela.
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