Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Marina Izidro

Uma Copa do Mundo de superlativos, e não à toa

Mundial feminino na Austrália e na Nova Zelândia tem recorde de seleções e público, entre outras conquistas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login


Faz 23 anos e parece que foi ontem. Os Jogos de Sydney-2000 sempre foram algo mágico para a menina apaixonada por Olimpíadas. Lembro-me de ver pela televisão as medalhas do Brasil no vôlei de praia em Bondi Beach; a australiana descendente de aborígenes Cathy Freeman com macacão verde, amarelo e branco e a cabeça coberta disparando em direção ao ouro nos 400 m rasos e a um lugar na história; a prata brasileira no revezamento 4 x 100 m do atletismo –só atrás dos americanos! E tantas outras memórias dos Jogos considerados "os melhores da história", que aconteceram tão longe, do outro lado do planeta.

Finalmente, pude ver que tudo aquilo existe e é lindo mesmo. Escrevo de Sydney, onde faço a cobertura da Copa do Mundo feminina de futebol, que começou na quinta-feira (20) e vai até 20 de agosto. Em Bondi, em um dia de sol de inverno, amigos jogam vôlei de praia, surfistas saem do mar, crianças andam de skate. O estádio de atletismo no parque olímpico agora é um dos palcos do Mundial.

Estádio Olímpico de Sydney é um dos palcos do Mundial - Izhar Khan - 20.jul.23/AFP

É um momento especial para o futebol feminino. Dizer que esta é a maior Copa do Mundo da história não é exagero, é fato. Pela primeira vez, dois países sediam –Austrália e Nova Zelândia. Tem o maior número de seleções participantes: passou de 12 na primeira edição, em 1991, para 32 em 2023, com oito estreantes: Marrocos, Zâmbia, Haiti, Panamá, Vietnã, Filipinas, Irlanda e Portugal. Vai bater recorde de público, com quase um milhão e meio de ingressos já vendidos.

Dá para dizer que já é uma vitória como um todo. Se até poucos anos atrás não havia profissionalização ou investimento –até uniforme masculino precisavam usar porque não existia um feito para elas–, hoje patrocinadores veem que o esporte feminino é um grande negócio. Atletas que cresceram tendo jogadores homens como referência e ouvindo que futebol "não é coisa de mulher" hoje inspiram meninas a praticar esportes. Depois de décadas lutando por igualdade de direitos e melhores condições de trabalho, a voz delas começou a ser ouvida.

Há problemas, claro, muitos. Esta é a nona edição, e só houve quatro campeãs: Estados Unidos, Alemanha, Japão e Noruega. Ver poucos países no pódio reflete a falta de atenção mesmo em nações que amam futebol, mas deram prioridade ao masculino. Brasil, Itália, França e Espanha nunca ganharam a Copa. A seleção do Canadá enfrenta problemas financeiros e a da Jamaica precisou fazer vaquinha para a equipe competir. A anfitriã Austrália gravou um vídeo criticando a diferença na premiação, que triplicou com relação a 2019, mas é quatro vezes menor do que a da Copa do Mundo masculina.

Nem os países-sede se salvaram das crises pré-evento. Dias antes da cerimônia de abertura, a Austrália anunciou que desistiu de sediar os Jogos da Comunidade Britânica de 2026 por estouro no orçamento. Horas antes de a Nova Zelândia enfrentar a Noruega, um homem matou duas pessoas a tiros em Auckland, palco da partida de estreia.

Quando eu era criança, futebol feminino mal passava na televisão. Ir a estádio então, nem pensar. Eram outros tempos, e bom ver quanto o mundo mudou. Ao falar da evolução da modalidade, vi várias jogadoras por aqui agradecendo às pioneiras que lutaram por direitos, reconhecimento, quebraram preconceitos. E lembrando que, sem elas, essa nova geração não estaria por aqui. Isso é graças às Sissis, Martas e Formigas do Brasil e do mundo.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.