Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Marina Izidro

Seriedade e investimento levaram Espanha e Inglaterra à final da Copa

As duas seleções buscam título inédito neste domingo, na Austrália

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Usar as palavras "Inglaterra", "final" e "Copa do Mundo" na mesma frase ainda deixa muito britânico boquiaberto. Isso aconteceu pela única e última vez em 1966. Naquele ano, Maria Esther Bueno era a tenista número um do mundo, John Lennon disse que os Beatles eram mais famosos que Jesus Cristo e o homem nem tinha pisado na Lua. A seleção masculina de futebol conquistou o título mundial em casa.

Agora pode ser a vez delas, na Copa do Mundo feminina, disputada na Austrália e na Nova Zelândia.

A seleção da Espanha também está na final pela primeira vez. Haverá uma campeã inédita. Dois países que, poucos anos atrás, viviam uma realidade bem diferente.

O futebol feminino espanhol passou por uma transformação dramática a partir de 2015, quando a primeira participação em uma Copa do Mundo estimulou mudanças. Clubes se uniram para acelerar a profissionalização da modalidade, chegaram patrocinadores, investimentos, transmissão de jogos na TV.

Foi também em 2015 que a equipe feminina do Barcelona se tornou profissional; o clube melhorou a estrutura e investiu na base. Os resultados vieram. Conquistou oito títulos espanhóis, duas vezes a Liga dos Campeões e o amor dos torcedores. No ano passado, 91.648 pessoas assistiram à semifinal da Champions entre Barcelona e Wolfsburg no Camp Nou, recorde mundial no futebol feminino. A capitã do time, Alexia Putellas, foi eleita duas vezes a melhor jogadora do planeta. A companheira de Barcelona e seleção, Aitana Bonmatí, é candidata a herdar o posto.

Jogadoras do Barcelona comemoram a conquista da Champions League-2023
Jogadoras do Barcelona comemoram a conquista da Champions League-2023, na Holanda - 3.jun.23/FC Barcelona

A Espanha venceu os mundiais sub-17 e sub-20 em 2022, mas faltavam resultados expressivos na categoria adulta. Ainda chegou à Copa sob desconfianças depois que 15 jogadoras se recusaram a atuar pela seleção, em protesto contra o técnico Jorge Vilda e às condições de trabalho oferecidas pela Federação Espanhola de Futebol. Três recuaram e o time mostrou ter talento para suprir a falta das que decidiram pelo boicote.

A luta das atletas ao longo dos anos gerou melhorias na preparação. Pela primeira vez, a seleção tem nutricionista e psicólogo, e um acordo feito com a federação permitiu que atletas que são mães pudessem passar tempo com os filhos durante o torneio.

Alba Redondo (esq.) e Elin Rubensson em lance de Espanha 2 x 1 Suécia, em Auckland - Zhu Wei - 15.ago.23/Xinhua

Na Inglaterra, a virada foi em 2012, quando a Grã-Bretanha jogou contra o Brasil diante de 70 mil pessoas em Wembley nos Jogos Olímpicos de Londres. O potencial ficou claro. A Women’s Super League, novo formato da primeira divisão inglesa, estava começando.

Como no caso espanhol, vieram patrocínio, profissionalização de atletas e o surgimento da cultura de assistir à modalidade; a transmissão na TV aumentou. A treinadora holandesa Sarina Wiegman foi contratada, tendo no currículo um título europeu e uma final de Copa do Mundo no comando de seu país. Repetiu a dose com a seleção inglesa, conquistando a Euro no ano passado com recorde de público na final contra a Alemanha –87 mil espectadores em Wembley. Mais de 17 milhões de pessoas, um quarto da população do Reino Unido, assistiram pela TV.

A australiana Steph Catley tenta bloquear chute da inglesa Alessia Russo na partida Inglaterra 3 x 1 Austrália - Hu Jingchen - 16.ago.23/Xinhua

Neste ano, no mesmo estádio, mais de 83 mil pessoas viram a Inglaterra vencer a Finalíssima, disputa entre a campeã europeia e a da Copa América, o Brasil. Wiegman tem só uma derrota em 38 partidas no comando das "leoas" inglesas.

Independentemente de quem ganhar neste domingo (20), o título mundial estará em boas mãos. É a vitória do investimento e da persistência no futebol feminino.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.