Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Distância entre potências do futebol e o restante está cada vez menor

Surpresas são sinal do crescimento do esporte entre as mulheres

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Se antes da Copa do Mundo alguém dissesse que a bicampeã mundial Alemanha e as campeãs olímpicas do Canadá seriam eliminadas na primeira fase, o Brasil não venceria a Jamaica e a poderosa seleção dos Estados Unidos sofreria para empatar sem gols com as estreantes de Portugal, essa pessoa poderia ser chamada de doida ou de desinformada sobre futebol feminino.

Enquanto nós, brasileiros, ainda digerimos a saída precoce, debatemos motivos técnicos e emocionais, lamentamos o fato de Marta não ter uma despedida de Copas à altura de sua grandeza, as notícias no Mundial já são outras.

Começam no sábado (5) as oitavas de final do torneio disputado na Nova Zelândia e aqui na Austrália, de onde escrevo. Nesta edição, são 32 seleções participantes, um recorde, e a qualidade não caiu, pelo contrário. Goste você ou não da forma como a Jamaica jogou, o futebol feminino está mais competitivo e surpreendente. Não basta mais ser potência: a falta de uma estratégia coerente para lidar com equipes "menores" está custando caro.

Campeão olímpico, o Canadá, de Adriana Leon (à dir.), levou 4 a 0 da Austrália, de Clare Hunt, e caiu na primeira fase da Copa do Mundo - Ding Xu - 31.jul.23/Xinhua

Apesar dos conflitos com a federação, esperava-se que o Canadá fosse mais longe. Voltou cedo para casa ao perder por 4 a 0 para uma Austrália que não tem tradição no futebol e que jogou sem a craque Sam Kerr, lesionada. O Brasil não era favorito ao título, mas tinha tudo para avançar e vencer as jamaicanas, que fizeram vaquinha online para competir.

Era dado como certo que a Alemanha terminaria em primeiro no grupo. Mas, depois da goleada por 6 a 0 sobre Marrocos, a campanha da vice-campeã europeia desandou. Perdeu para a Colômbia na segunda derrota de sua história na fase de grupos, e o empate com a Coreia do Sul não foi o suficiente.

Alemãs, colombianas e marroquinas chegaram ao último jogo da primeira fase brigando por duas vagas nas oitavas. Alemanha x Coreia do Sul e Colômbia x Marrocos ocorreram no mesmo horário. Eu estava no estádio em Perth, vendo de perto as marroquinas, que venceram, reunidas em campo esperando os segundos derradeiros do jogo rival. Apito final, e a agonia da seleção que ocupa a 77ª posição no ranking virou emoção. Pela primeira vez, uma nação árabe passou da fase de grupos no Mundial feminino. Classificação inédita também para Jamaica e África do Sul.

A modalidade só cresce globalmente, e, felizmente, é um caminho sem volta. A Copa do Mundo já deixa como lição que é preciso investir sempre mais. Investimento no futebol das mulheres não é luxo, é obrigação. Até porque no Brasil ele chega com décadas de atraso, e seria impensável diminuir recursos para os homens depois de eliminações em Mundiais.

É preciso difundir o futebol entre as meninas, para que crianças aprendam a executar fundamentos e a amar o esporte. Entender o motivo pelo qual o grande jovem talento sul-americano é da Colômbia, não do nosso país. Linda Caicedo, 18 anos e recém-contratada pelo Real Madrid, disputa o terceiro Mundial em um ano. Jogou sub-17, sub-20, e já marcou dois gols no torneio adulto. Se continuar evoluindo, será candidata a tornar-se melhor do mundo.

Os confrontos das oitavas são Suíça x Espanha, Holanda x África do Sul, Japão x Noruega, Suécia x Estados Unidos, Austrália x Dinamarca, França x Marrocos, Inglaterra x Nigéria e Colômbia x Jamaica. Novas surpresas podem acontecer. Quanto ao Brasil, daqui a um ano há os Jogos Olímpicos de Paris. O esporte coletivo sempre dá outra chance, uma medalha é possível. É preciso investir e agir.

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