Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Quem tem medo da liga da Arábia Saudita?

Debate sobre o que vale mais, dinheiro ou prestígio, ganhou força na última janela de transferências europeia

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Quando o então capitão do Liverpool, Jordan Henderson, anunciou em julho que estava deixando o clube para assinar com o Al-Ettifaq, da Arábia Saudita, a reação na Inglaterra foi de choque.

Como um jogador engajado, defensor dos direitos LGBTQIA+, trocaria a liga mais poderosa do planeta, e uma equipe com a qual conquistou a Premier League e a Liga dos Campeões, por um campeonato infinitamente menos competitivo em uma nação que não respeita os direitos humanos e das mulheres, restringe liberdades de imprensa e individuais, e onde ser homossexual é crime?

O debate sobre o caso Henderson, cercado de críticas ao jogador, acontecia ao mesmo tempo em que a fila de contratações feitas pelo futebol saudita crescia. Não era mais sobre um caso isolado como o de Cristiano Ronaldo, que saiu do Manchester United aos 37 anos para o Al-Nassr no fim de dezembro. Eram Benzema, Neymar, Sadio Mané, Kanté, Roberto Firmino, Fabinho, Mahrez, e tantos outros.

O sengalês Sadio Mané, do Al-Nassr, e o inglês Jordan Henderson, do Al-Ettifaq, em partida da liga saudita.
O sengalês Sadio Mané, do Al-Nassr, e o inglês Jordan Henderson, do Al-Ettifaq, em partida da liga saudita. - Ali Alhaji / AFP

A lista, atualizada com frequência nas manchetes esportivas, gerou outra discussão: é preciso ter medo de uma liga ambiciosa e na qual dinheiro não é problema?

O alvo do momento é Mohamed Salah. O Liverpool já havia rejeitado uma oferta de £150 milhões (R$ 932 milhões) do Al-Ittihad pelo egípcio, mas, como a janela de transferências saudita fechou na quinta-feira (7), uma semana depois da inglesa, havia o temor de que chegaria uma oferta de impressionantes £200 milhões (R$ 1,2 bilhão), o que não aconteceu.

Mesmo assim, o técnico Jürgen Klopp pediu publicamente "proteção" ao futebol europeu. Entende-se que o interesse por Salah não terminou, e que outra investida do Al-Ittihad é questão de tempo.

Agora, as escolhas para a seleção inglesa estão sendo questionadas. O técnico Gareth Southgate foi criticado por convocar Henderson para partidas das eliminatórias para a Eurocopa do ano que vem —a Inglaterra enfrenta a Ucrânia neste sábado (9).

"A liga Árabe equivale, no máximo, ao Championship (segunda divisão inglesa) e ninguém imagina Southgate convocando um atleta desta divisão, não é mesmo?", reclamou o ex-jogador do Tottenham Garth Crooks, hoje comentarista de TV.

Henderson tentou se defender em uma entrevista ao The Athletic, a primeira desde a mudança. O jogador de 33 anos negou que esteja ganhando £700 mil (R$ 4,3 milhões) por semana, segundo divulgado na imprensa inglesa. Também disse que a motivação não foi dinheiro, e sim o projeto apresentado por seu agora treinador Steven Gerrard, outro ídolo do Liverpool, além do desafio de jogar em um lugar totalmente diferente. Não colou.

A Premier League foi a liga que mais gastou na última janela de transferências: £2.36 bilhões (R$ 14,2 bilhões), segundo cálculos da Deloitte. Já a Arábia Saudita, cerca de £700 milhões (R$ 4,3 bilhões).

Especialistas em geopolítica lembram que os sauditas já investiram bilhões em diversos esportes, como parte de um projeto impossível de não ser associado a sports washing (quando uma nação tenta limpar a imagem pública através do esporte), mas que também busca diversificar o portfólio do país e não depender apenas do petróleo.

Dirigentes ingleses que têm falado sobre o assunto admitem que é bom estar de olhos abertos e acham que os sauditas ficarão mais agressivos em suas ofertas. Mas ainda confiam que grandes estrelas vão preferir ficar por algo extremamente precioso para quem atua em um grande clube da Europa: o prestígio.

Isso, por enquanto, só o dinheiro não pode comprar.

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