Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Marina Izidro
Descrição de chapéu Copa do Mundo feminina

A Copa do Mundo feminina de 2027 já começou

Mídia, patrocinadores e federações têm de fazer modalidade crescer ainda mais

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Terminou há uma semana a maior Copa do Mundo feminina de todos os tempos. Houve recordes de público nos estádios —quase dois milhões de espectadores, 600 mil a mais que a marca anterior; de seleções —32, pela primeira vez; de audiência de TV mundo afora —uma média de 7,2 milhões de australianos viram sua seleção jogar a semifinal contra a Inglaterra. Com pico de 11,2 milhões, foi a maior audiência da história do país desde o início das medições, em 2001.

E o Mundial de 2027 já começou.

Há alguns dias, como parte de uma reportagem sobre o sucesso da Inglaterra no futebol feminino e desafios para o futuro, conversei com uma professora da universidade inglesa de Durham, especialista em esporte praticado por mulheres e suas desigualdades. Em um estudo, ela notou que o público se frustrava ao ver que a mídia falava sobre futebol feminino durante grandes eventos como a Copa do Mundo mas que, logo depois, a cobertura era quase inexistente.

O torneio da Austrália e da Nova Zelândia fez o mundo debater a modalidade. Ora, se é automático discutir futebol praticado por homens todos os dias, por que no feminino deve ser diferente? Erro que, aliás, também cometemos com nossos esportes olímpicos...

Deixo sugestões. Depois de décadas de domínio dos Estados Unidos, há uma nova campeã. O que tem de especial na seleção da Espanha? Será que Aitana Bonmatí será a próxima melhor do mundo? Quais são as novas forças? E na América do Sul, o que a Colômbia fez para ter ido mais longe do que o Brasil?

O torneio mostrou que a distância entre as potências e o restante das equipes é cada vez menor. Como é o mapa do futebol feminino no mundo, o quanto está globalizado, se pensarmos que craques como a atacante australiana Sam Kerr e a goleira jamaicana Becky Spencer se enfrentam regularmente no Campeonato Inglês?

Eu estava na Austrália e vi os anfitriões abraçarem o futebol feminino e nos receberem tão bem. O que próximos candidatos a sediar um Mundial podem aprender? (Alô, Brasil!)

Você sabe onde atuam nossas jogadoras? Que a Geyse saiu do Barcelona para o Manchester United? E que, daqui a menos de um ano, o Brasil tem chance de medalha nos Jogos Olímpicos de Paris?

Lance de Brasil 0 x 0 Jamaica pelo Mundial feminino, em Melbourne - Ding Xu - 2.ago.23/Xinhua

O torneio também expôs feridas abertas. Casos de falta de investimento, assédio. Cabe às federações tratarem as atletas com mais respeito.

Por falar nisso, é preciso haver prestação de contas no caso Luis Rubiales. É inaceitável que o ocupante do posto mais alto da federação campeã do mundo siga no cargo depois de beijar uma jogadora na boca na hora da entrega das medalhas, manchando ainda um dos momentos mais importantes da história esportiva de seu país.

O dirigente Luis Rubiales, presidente da Real Federação Espanhola, segurou o rosto da jogadora da seleção espanhola, Jenni Hermoso e deu um beijo na boca, provocando um momento extremamente constrangedor  durante a cerimônia de entrega da medalha de ouro para a equipe campeã da Copa do Mundo Feminina
Luis Rubiales beija a boca de Jenni Hermoso - Reprodução/Sportv

Cabe a nós, jornalistas, reportar, cobrar, amadurecer a forma como falamos de futebol feminino. A mesma especialista que citei no início da coluna é autora de um estudo que comparou a cobertura das Copas do Mundo de 2015 e 2019 em jornais ingleses e apontou que o aumento do interesse da mídia foi fundamental para desenvolver a modalidade. Não só com quantidade de artigos, também com qualidade. O uso de palavras que infantilizam as jogadoras, como "meninas", diminuiu, com foco na performance das atletas.

Não existe essa desculpa de "ninguém quer saber de esporte olímpico ou de futebol feminino," e o Mundial provou isso. É um círculo: investimento gera profissionalização que gera cobertura que gera interesse do público. Repito: a Copa de 2027 já começou.

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