Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Descrição de chapéu

Skate foi o maior acerto dos Jogos Olímpicos nas últimas décadas

Divertido de assistir e praticar, estreou em Tóquio em 2021; Brasil chega forte a Paris-2024

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Na manhã de um domingo abafado no Rio de Janeiro —o termômetro marca 34 graus— milhares de pessoas caminham em direção a uma arena aberta perto do mar. Crianças, jovens, adultos, alguns idosos. O destino? Um campeonato de skate.

No fim de outubro, o STU Open Rio 2023 reuniu skatistas brasileiros e estrangeiros, e um nome em especial anunciado pelo narrador gerou uma onda de aplausos: o da brasileira Rayssa Leal, 15 anos, medalhista olímpica e campeã mundial.

Rayssa Leal disputa a final feminina do Skate Street na pista de skate Aljada, em Sharjah, nos Emirados Árabes
Rayssa Leal disputa a final feminina do Skate Street na pista de skate Aljada, em Sharjah, nos Emirados Árabes - Karim Sahib-5.fev.23/AFP

Arquibancadas cheias, hip hop nas caixas de som. Se alguém não conseguiu ingresso, porque estavam esgotados, sem problemas. A final teve transmissão ao vivo na TV.

O skate tem seu nicho, a própria galera. Mas o ambiente era informal, todos se sentiam bem-vindos. Para os que não tinham intimidade com o esporte, o apresentador do evento ajudava —em português e inglês— explicando a prova e indicando a hora de aplaudir para incentivar o atleta. Havia um respeito não visto em alguns esportes: os rivais dos brasileiros eram aplaudidos também.

Conversei com Rayssa depois que ela venceu a final do street —modalidade que simula elementos das ruas como corrimões e escadas. Uma fila de crianças esperava para tirar foto com ela.

"Dá um frio na barriga, os brasileiros que amam skate estão aqui," me explicou. "De tanto competir fora do país, a gente desacostuma com a torcida, mas é essencial. Minha família está aqui, é uma experiência totalmente diferente de outros campeonatos. Fico muito feliz de competir no Brasil."

Com a arquibancada também lotada, o brasileiro Pedro Barros foi campeão no park, disputado em uma pista curva que parece uma piscina, também com obstáculos.

Ao ver tudo aquilo, tive certeza: o skate foi o maior acerto dos Jogos Olímpicos das últimas décadas.

Há esportes que entram e saem do programa olímpico. Alguns não emplacam. O skate foi um sucesso. Estreou em Tóquio-2021, parte do objetivo do Comitê Olímpico Internacional de atrair público jovem. É plástico, animado, fácil de entender. Os atletas têm personalidade, estilo.

O skate é cool.

Criado na Califórnia nos anos 1950 quando surfistas procuravam o que fazer se o mar não tinha ondas, é tão incrível quanto o surfe, que também estreou em Olimpíadas no Japão, mas mais atrativo para o público e fácil de organizar.

Uma arena de skate pode ser montada em qualquer lugar. Em Paris-2024 será no coração da cidade. Já a disputa olímpica do surfe será no Taiti, a 15.000km da capital francesa.

Se Tóquio —quando o Brasil ganhou três pratas com Rayssa, Pedro Barros e Kelvin Hoefler— não teve espectadores por causa da pandemia, em Paris será uma das maiores atrações.

Para não dizer que não há críticas, no skate o debate é a idade dos atletas, muito novos e já sob enorme pressão. Rayssa foi a medalhista olímpica mais jovem da história do país, aos 13. Quem tem mais de 20 é veterano.

A corrida olímpica está em andamento. Rayssa, em 2º lugar no ranking de classificação, tem tudo para estar em Paris.

Ao fim da nossa conversa, ela celebra o fato de seu esporte ter se tornado olímpico: "é uma felicidade para a gente que não cabe no peito, de verdade."

"Chego mais madura e forte, meu mental e físico mudaram, com certeza é um diferencial. Mas estou tentando não pensar tanto em Paris agora para não ficar tão ansiosa e querer chegar logo. Quero viver um campeonato de cada vez."

Eu não vejo a hora.

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