Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Descrição de chapéu atletismo

Por que eu corro? Porque isso torna a vida melhor

A satisfação de completar a maratona de Londres, 12 anos após os primeiros 42km

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Não era um domingo qualquer. No último dia 21, a capital inglesa foi tomada por uma multidão com tênis nos pés e coração cheio de ansiedade. E com um objetivo: correr a maratona de Londres.

É um dia especial no calendário londrino. Tem cobertura ao vivo na BBC e o instituto de meteorologia faz até previsão do tempo para local e hora da largada no parque de Greenwich.

Eu era uma das sortudas entre os inscritos. Na ida, de transporte público –gratuito para corredores–, funcionários dos trens, sorriso no rosto, nos desejavam sorte.

No percurso inteiro tinha gente torcendo. Tomei cuidado para não me empolgar demais em uma parte emocionante, na Tower Bridge. Era só metade do caminho. Corrida é individual, mas era impossível se sentir sozinho.

Eu, de camiseta regata verde, na Maratona de Londres - Sportograf

A maratona de Londres é das mais tradicionais do mundo, mas transcende a corrida. Muitos representam instituições de caridade e, nesta edição, arrecadaram £ 67 milhões (R$ 432 milhões).

E tem cada figura... Conheci um inglês que correu com uma máquina de lavar roupas nas costas para arrecadar fundos para uma ONG. Terminou em 5h59min21 e pediu a namorada em casamento na chegada –ela disse sim!

E 44 pessoas entraram para o Guinness World Records. Um deles foi o mais rápido a correr vestido de cone, em 3h22min16. Não vi o cone, mas ultrapassei um camarada fantasiado de tubarão.

Quem escolhe correr maratona tem motivo para estar ali: em prol de uma causa, tentar uma marca pessoal, se provar. No meu caso, queria mostrar para mim mesma que conseguiria encarar um enorme desafio físico e mental. Corro há 15 anos e tinha feito uma maratona, em 2012, só com a ambição de completar. Agora era diferente.

Percorrer 42km195m vai além do prazer de correr, até porque vai doer. É mais fácil para uns do que para outros, mas ninguém duvida que tem que respeitar a distância. Muita coisa pode dar errado nos meses de treinos e no dia. Nada é garantido até perto do fim.

Animada durante a prova - Sportograf

Comecei a sofrer no km 35. As pernas doíam, a cabeça tenta te boicotar. Segui. Lembrei os treinos nas manhãs geladas de inverno nas ruas escuras e com neve. Das vezes que não saí com amigos para poder dormir cedo. De como queria aquela medalha. "Vai lá e pega a cereja do bolo", disse minha treinadora.

Aprendi na Inglaterra que a prova é a "victory lap", a volta olímpica, a celebração do seu esforço. Pouco mais de 53 mil chegaram até o fim, no palácio de Buckingham, e isso já era motivo de orgulho. Mas eu também queria fazer em um tempo que me deixasse satisfeita.

Terminei em 03h53min41, dentro da meta do sub-4 e negativando –com a segunda parte mais rápida do que a primeira. Em 37 minutos a menos do que na outra maratona, 12 anos mais velha, e com ânimo para andar até o pub e comemorar.

Tempo é subjetivo. O que pode parecer inalcançável para um iniciante vai ser fácil para um ultramaratonista. Não me comparo. Sempre vai ter alguém mais rápido do que eu, e tudo bem.

Por que eu corro? Porque minha vida fica melhor. Levanta a autoestima e me mostra minhas limitações. Correr me deixa saudável, com disposição. Quem não pratica atividade física vai ter uma velhice com mais sofrimento, se chegar lá.

E vale a pena tanto sacrifício por algumas horas em uma maratona? Sem dúvidas. Como me disse um amigo no pub depois da prova sobre a sensação da conquista após tanta dedicação: não basta existir, a gente precisa viver.

A colunista correu a maratona de Londres a convite da New Balance

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