Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Descrição de chapéu Eurocopa

A Copa do Mundo Feminina no Brasil já começou

País tem mais uma rara chance de aproveitar um megaevento esportivo a seu favor

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Se a Inglaterra hoje é uma potência no futebol feminino, foi graças a muita insistência e mais de dez anos de trabalho duro. A percepção de que se tratava de um ótimo negócio tem a ver com o nosso país.

Nos Jogos Olímpicos de Londres de 2012, uma partida entre as seleções femininas da Grã-Bretanha e do Brasil levou mais de 70 mil pessoas ao estádio de Wembley. A partir daí, começaram investimentos, patrocínios, transmissão de jogos na televisão, profissionalização da primeira divisão inglesa, a Women’s Super League (WSL).

Casey Stoney e Cristiane na partida Grã-Bretanha 1 x 0 Brasil, em Wembley, em 2012 - Paul Hackett - 31.jul.12/Reuters

Em um país apaixonado por futebol, criou-se a cultura de torcer também pelo delas. Somado a isso, segurança e transporte público eficiente para ir de casa ao estádio. Dez anos depois daquele jogo, a Inglaterra conquistou a Eurocopa feminina e, no ano seguinte, foi finalista da Copa do Mundo em que a Espanha foi campeã.

A maioria das jogadoras atua na WSL e elas viraram exemplos nos quais crianças podem se inspirar. É bem comum ver meninas jogando futebol nos parques ingleses e indo aos estádios com os pais.

A história dessa evolução da Inglaterra é bem conhecida, mas sempre é bom repeti-la, ainda mais depois que o Brasil foi escolhido sede da Copa do Mundo Feminina de 2027.

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, anuncia o Brasil como sede da Copa feminina de 2027 - Manan Vatsyayana/AFP

Seremos o primeiro país sul-americano a receber um Mundial feminino. O Brasil superou a candidatura conjunta de Alemanha, Bélgica e Holanda, e isso não é pouco. São países com tradição no esporte, excelentes infraestrutura e estádios, que fariam um evento em 13 cidades, com poucos deslocamentos.

O plano dos europeus incluía realizar a partida de abertura na Johan Cruijff Arena, maior da Holanda e casa do Ajax, e a final no estádio do Borussia Dortmund, usado na Copa do Mundo que a Alemanha sediou em 2006.

A Fifa elogiou os estádios oferecidos pelo Brasil e que foram utilizados na Copa de 2014, mas alguns precisam de reformas. Abertura no dia 24 de junho e encerramento em 25 de julho serão no Maracanã, no Rio de Janeiro. As outras cidades-sede são Belo Horizonte, São Paulo, Brasília, Cuiabá, Porto Alegre, Fortaleza, Recife, Salvador e Manaus. Também contou o fato de o país ter sediado grandes eventos além do Mundial, como os Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016 e a Copa América em 2021.

Será uma imensa responsabilidade replicar o sucesso da última Copa feminina, na Austrália e Nova Zelândia, com estádios lotados e recordes de público e de audiência na TV.

Espanholas comemoram a vitória contra a Inglaterra na Copa de 2023 - David Gray/AFP

Organizadores e CBF prometem fazer desta uma oportunidade de desenvolver o futebol feminino no Brasil. É preciso isso e mais.

Acabar com preconceitos ultrapassados, solidificar uma cobertura de imprensa respeitosa, técnica e que não seja impulsionada apenas por jornalistas mulheres. Eventos como este trazem investimentos ao país-sede que não existiriam. É a chance de pensar em legado.

Temos estádios, mas como o espectador vai até lá? Haverá transporte público de qualidade, com segurança? E, bem antes disso, clubes estão criando o hábito no torcedor, colocando jogos em estádios que possam receber público e em horários convidativos?

Lance da partida Flamengo 2 x 1 Botafogo, final do Carioca-2023, no estádio da Gávea, que não pode receber público
Lance de Flamengo 2 x 1 Botafogo, final do Carioca-2023, no estádio do Flamengo, na Gávea, que não pode receber público - Arthur Barreto/Botafogo

Há muitos pontos a serem discutidos: esportivos, econômicos, sociais.

Inglaterra, Espanha, Estados Unidos e muitos outros países transformaram investimento e visão de negócio em títulos. O Brasil tem um dever de casa a fazer, e na organização de um megaevento três anos passam voando.

Uma chance como essa é rara e dificilmente acontecerá novamente.

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