Matias Spektor

Professor de relações internacionais na FGV.

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Matias Spektor

Chegou a hora de planejar o 'day after' na Venezuela

Há a ilusão de que o caminho da restauração democrática ficará livre se Maduro deixar o poder

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Avança exitosa a coalizão internacional para isolar o chavismo e acelerar a mudança de regime na Venezuela, condição necessária para reverter a crise humanitária que consome o país. 

Tal sucesso, entretanto, cria seus próprios problemas: no afã justificado de livrar o país da tirania, voltam à superfície velhos instintos intervencionistas. 

Não me refiro a uma intervenção militar, hoje improvável. Antes, trata-se de algo mais sutil, mas não menos perverso. 

É a ilusão segundo a qual, sem Nicolás Maduro, ficará desimpedido o caminho da restauração democrática. Essa fantasia mantém a ideia de que, trocando o grupo que comanda o Estado, se resolve a questão, de que, montando um pacote possante de ajuda externa, a população convergirá para um consenso nacional com celeridade.

Esse tipo de raciocínio desconta os problemas do “day after” e, por isso, deixa de planejar direito a sequência que se aproxima.

Ocorre que a população venezuelana rechaçará qualquer processo transitório bem-intencionado que seja ou pareça ser corrupto, manipulado ou imposto de fora. E é importante não se enganar: no dia que Maduro deixar o cargo não faltarão atores nacionais e estrangeiros querendo corromper, manipular e impor as suas preferências.

Por isso, planejar o “day after” é urgente, mesmo que seja impossível prever com precisão os desdobramentos da queda de Maduro

 

O Brasil pode e deve contribuir com essa “ética da prudência”. Foi o que fizemos há 20 anos, quando forçamos a mão para preservar a democracia no Paraguai. 

É o que defendemos há poucos anos quando a intervenção humanitária virou moda e alertamos para a necessidade de mitigar os danos embutidos em qualquer processo de ingerência externa na vida de um país.

Além disso, temos na Venezuela responsabilidades especiais. Não só o Estado brasileiro ajudou a consolidar a força da máfia chavista no poder mas também a crise venezuelana afeta a paz e a estabilidade de nosso entorno e dá vazão ao crime organizado que opera para criar um narcoestado em nossa fronteira. 

A melhor maneira de honrar essa responsabilidade especial é zelar pelo bom planejamento do que acontecerá no dia após a queda. 

A participação brasileira em qualquer mudança de regime somente será justa se contribuir para ajudar a população afetada e, no processo, conseguir evitar um novo ciclo de violência. Apostar todas as fichas em derrubar Maduro sem pensar no passo seguinte pode deixar um rastro de destruição.

Se vamos embarcar na empreitada valiosa de restaurar a Venezuela, temos de imaginar a sequência às claras, com os pés bem plantados no chão.

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