Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Descrição de chapéu

Anti-heroína em busca de cumplicidade

Fleabag é uma das séries mais desconcertantes criada nos últimos anos

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São apenas duas temporadas com seis episódios de 25 minutos cada um. Dá para assistir a tudo, sem maior esforço, em dois dias seguidos. E depois rever com calma cada episódio. Pois se trata de uma das séries mais desconcertantes que a TV produziu nos últimos anos.

Na aparência, “Fleabag” é uma comédia, mas vai muito além. Criada, escrita e protagonizada pela atriz Phoebe Waller-Bridge, relata as aventuras de uma moça independente, valente e desbocada, mas também autodestrutiva, frágil e malvada, que divide com o espectador todas as suas aflições.

Lançada em 2016 pela BBC 3, um canal exclusivamente online, e distribuída pelo serviço de streaming da Amazon, a primeira temporada chamou a atenção da crítica e foi premiada no Reino Unido. Mas não
alcançou o grande público.

Na sequência, Waller-Bridge ajudou a desenvolver e foi a showrunner de “Killing Eve”, uma série policial britânica de muito sucesso, e atuou, como um androide, no filme “Han Solo: Uma História Star Wars”.  

Foi o lançamento da segunda temporada de “Fleabag”, em maio deste ano, que a pôs em outro patamar na indústria. Descoberta pelo público americano, a série mereceu 11 indicações ao Emmy, entre as quais as de melhor comédia, roteiro e atriz.

A cena de abertura do primeiro episódio da segunda temporada mostra a anti-heroína Fleabag no banheiro, diante de um espelho, olhando e limpando o nariz ensanguentado. 

Ela se vira para a câmera e diz: “Esta é uma história de amor”.A quebra da chamada quarta parede, com Fleabag se dirigindo diretamente ao público, é uma das marcas fortes da série. Ainda que o recurso não constitua nenhuma novidade, tem a função importante de exigir (e estabelecer) cumplicidade do espectador com uma personagem completamente torta.

Phoebe Waller-Bridge confunde o público a todo momento, inclusive com tiradas que, aparentemente, fogem da cartilha clássica do feminismo.

Na primeira temporada, Fleabag e sua irmã, Claire (Sian Clifford), vão a um encontro de mulheres e a palestrante diz: “Por favor, levante a mão se você trocaria cinco anos de sua vida pelo chamado corpo perfeito”. Para espanto do resto da sala, as duas levantam o braço imediatamente.

Na segunda temporada, Fleabag debocha: “Acho que eu não seria tão feminista se tivesse peitos maiores”. Para surpresa geral, a personagem que tinha uma vida amorosa e sexual nada ortodoxa, agora se apaixona por um padre, interpretado por Andrew Scott.

As cenas e diálogos entre os dois personagens são espetaculares. Vão de discussões profundas e filosóficas a momentos cômicos e, também, de completa... bem, não vou dar spoiler.

A série de Phoebe Waller-Bridge também trata de violência e abuso contra as mulheres, um tema que a aproxima de “Big Little Lies”, cuja segunda temporada terminou há uma semana. Mas as diferenças entre as duas são gritantes.

Enquanto “Fleabag” transborda simplicidade e até pobreza de recursos, o programa da HBO é uma superprodução que mistura estética de publicidade de perfume com roteiro de novela de Manoel Carlos.

A grande novidade desta segunda temporada foi a entrada em cena de Meryl Streep como mãe de Perry (Alexander Skarsgard), o marido abusador de Celeste (Nicole Kidman). Sem fazer muito esforço, a atriz roubou a cena, como de hábito.

Ainda surfando na onda do movimento MeToo, contra o assédio e o abuso sexual, “Big Little Lies” foi um sucesso de audiência e deixou aberta a porta para uma terceira temporada. Torço mesmo é por uma nova leva de episódios de “Fleabag”.

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