Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Rir para não chorar

'O Método Kominsky' e 'Filhos da Pátria' são ótimas séries cômicas no ar

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Disponível desde o final de outubro, a segunda temporada de “O Método Kominsky” é ainda mais provocativa que a primeira. Centrada na amizade de dois amigos idosos, a série da Netflix encara as agruras do envelhecimento em ritmo de tragicomédia, com pouca piedade e muito humor negro.

Perda de memória, solidão, a próstata dilatada, dificuldade de ereção —os problemas habituais da idade servem de ponto de partida para as reflexões ácidas de Sandy Kominsky (Michael Douglas), um 
professor de interpretação já nos seus 70 anos, e Norman Newlander (Alan Arkin), um bem-sucedido agente de atores, entrando nos 80.

O tema está longe de ser novo, mas há algo de especial na cumplicidade entre os dois personagens principais. Eles formam praticamente um casal. Numa das melhores cenas desta temporada, Sandy deixa Norman enciumado ao levar para o tradicional almoço dos dois o namorado de sua filha, o sessentão Martin (Paul Reiser).

Cena da série 'O Método Kominsky'
Cena da série 'O Método Kominsky' - Divulgação

Douglas e Arkin nunca haviam trabalhado juntos antes. Vê-los num duelo artístico de alto nível é outro dos grandes prazeres desta série. É uma cena melhor que a outra.

“O Método Kominsky” é obra de Chuck Lorre, uma espécie de Midas das comédias para a televisão. Ele criou e escreveu inúmeras séries bem-sucedidas, entre as quais “Dharma & Greg” (1997-2002), “Two and a Half Men” (2003-2015) e “The Big Bang Theory” (2007-2019).

Um toque do peculiar humor de Lorre é a repetição de uma mesma situação em quase todo episódio. O garçom do restaurante que os protagonistas frequentam, tão idoso quanto Norman, anda curvado como se precisasse de um andador. Tremendo muito, traz os drinques numa bandeja, sempre criando a expectativa que vai derrubar tudo no caminho. 

Outra série cômica em segunda temporada que merece a atenção é “Filhos da Pátria”, em exibição na Globo. De caráter histórico, ela se propõe a mostrar a persistência da esculhambação geral do Brasil. Uma frase de Nelson Rodrigues (1912-1980) serviu de epígrafe ao primeiro episódio:  “Subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos”. 

A primeira temporada foi ambientada em 1822, nos dias seguintes à Independência. Vimos como um burocrata medíocre e covarde, Geraldo Bulhosa (Alexandre Nero), foi se transformando, moldado pelo chefe da repartição, Pacheco (Matheus Nachtergaele), num quadro corrupto do serviço público imperial.
Paralelamente, a arrivista e egoísta Maria Teresa (Fernanda Torres), mulher de Bulhosa, estimula a ambição do marido e se refastela com os benefícios advindos dos delitos que ele comete.

A segunda temporada “transportou” todos os personagens da série para os dias posteriores à Revolução de 1930, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder. “Acabou a mamata”, festeja um personagem. Empolgada com os novos ventos trazidos do Sul, Maria Teresa bate panela, faz “arminha” com as mãos e observa que “meninos vestem azul, meninas vestem rosa”.

Nero, Nachtergaele e Fernanda lideram um elenco brilhante, que inclui também Jéssica Ellen, Johnny Massaro, Serjão Loroza e Lara Tremouroux.

Criação de Bruno Mazzeo, “Filhos da Pátria” flerta com a ideia de que há uma vocação atávica ao fracasso, apesar da sabedoria de uns e da boa vontade de outros. Há farto material para novas temporadas.  

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