Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Serviços de streaming ignoram transparência e não divulgam audiência

Nestas últimas semanas, tive duas experiências frustrantes na busca por números de plataformas

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No modelo de negócios da TV aberta, que sempre funcionou movido a publicidade, os índices de audiência e o perfil socioeconômico do público são determinantes para a receita das emissoras. Os números do Kantar Ibope, divulgados diariamente, orientam as decisões dos diretores de programação e o destino dos programas.

Na TV paga, a pressão por audiência dos programas é um pouco menor, mas não desprezível. Além de faturar com publicidade, os canais ganham dinheiro também das operadoras, que empacotam e distribuem conteúdo para os seus assinantes.

A situação é diferente nos serviços de streaming inteiramente baseados em assinaturas, como Netflix e Amazon Prime Video. Por não dependerem de publicidade, eles não se sentem obrigados a divulgar os seus números.

É evidente que essas empresas continuam a tomar decisões com base em audiência —a aprovação ou não de projetos, a renovação ou o cancelamento de séries, a contratação de diretores e produtores, tudo isso é mediado pelo potencial de público.

A não divulgação dos números de audiência, porém, provoca um ruído. Trata-se, indiscutivelmente, de uma informação útil para diferentes segmentos da indústria, de produtores e roteiristas a jornalistas.

Nestas últimas semanas, tive duas experiências frustrantes na busca por números de plataformas de streaming.

A Netflix me informou que o filme “Tudo Bem no Natal Que Vem”, de 2020, protagonizado por Leandro Hassum, “está entre os três títulos mais vistos no Brasil nos últimos dez anos”. E também: “o filme alcançou a marca de 26 milhões de acessos em todo o mundo nos primeiros 28 dias de exibição”.

O que significam esses números? O conceito de “acesso” é muito vago, abarcando desde o espectador que viu dois minutos do filme e desistiu até aquele que foi até o fim.

Quis saber se o filme de Hassum é o único título brasileiro entre os dez mais vistos no Brasil nos últimos dez anos. E quais são os três mais vistos no Brasil nos últimos dez anos? A Netflix disse que não tinha essas informações.

Já o Globoplay passou um dado sobre a série “Filhas de Eva”, protagonizada por Renata Sorrah. Segundo publicado no jornal O Globo, “desde sua estreia, é a série mais vista do Globoplay (dados de 8 de março a 15 de março) e passou de 1 milhão de horas de consumo”.

Pedi à empresa um comparativo de “horas de consumo” com outras séries brasileiras lançadas pelo serviço. O Globoplay respondeu que não divulga informações comparativas entre séries por considerar esses dados estratégicos para o negócio. E também por entender que não é possível comparar séries com durações totais diferentes.

Não sendo possível comparar, os dados divulgados sobre “Filhas de Eva” (uma série que oferece bom entretenimento, por sinal) servem apenas como propaganda.

Desde fevereiro de 2020, a Netflix divulga diariamente um Top 10 de séries e filmes. É um ranking de popularidade sem muita informação e quase sempre ocupado pelos lançamentos da semana.

Boa parte do marketing de que “Cidade Invisível” é uma série com apelo global foi feito, inicialmente, com base na presença do título neste Top 10 de dezenas de países. Após duas semanas, a série sumiu da maior parte destas listas e esse tipo de propaganda cessou.

Além da pressão externa para divulgação de dados de audiência, o fato é que a própria indústria do streaming sente necessidade de tornar público o desempenho de alguns de seus produtos, mas ainda não encontrou o critério ideal para fazer isso.

P. S. – Aos fãs dos textos de Contardo Calligaris (1948-2021), recomendo a série “Psi”, que ele criou, baseada em dois romances seus. Disponível na HBO, é protagonizada por um psicanalista, Carlo Antonini (Emilio de Melo), que tem muito do próprio autor.

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