Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Emissoras simpáticas a Bolsonaro deixam de citar quem agrava a Covid-19

Fora do jornalismo, canais recorrem às reprises para enfrentar a pandemia do novo coronavírus no Brasil

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O recrudescimento da pandemia de coronavírus, um drama nacional, também veio num péssimo momento para as grandes redes de TV aberta. Os últimos dias foram de anúncios de adiamentos de produções originais, notícias sobre funcionários doentes e afastamento preventivo de profissionais de grupos de risco.

O maior sinal de que a situação é dramática foi o anúncio da Globo sobre o adiamento da próxima novela das 21h, “Um Lugar ao Sol”, de Licia Manzo, que iria estrear em 12 de abril. Nesta data a emissora levará ao ar uma reprise de “Império” (2014), de Aguinaldo Silva. Será a terceira novela reapresentada no horário mais nobre da TV brasileira desde março de 2020.

Interrompida em 21 de março do ano passado, “Amor de Mãe” foi substituída por “Fina Estampa” (2011), também de Aguinaldo Silva, e “A Força do Querer” (2017), de Gloria Perez. A novela de Manuela Dias volta a ser exibida na segunda (15) e termina em 10 de abril. A emissora gravou apenas 23 capítulos para concluir a trama.

Cito em detalhes o histórico dessa faixa horária, mas problemas semelhantes estão ocorrendo em toda a cadeia de produção da emissora e também na de seus concorrentes.

A Record, igualmente, tem apelado para reprises de novelas no horário nobre, e o SBT, numa situação ainda mais complicada, está reapresentando programas de auditório.

O Programa Silvio Santos, que ocupa quatro horas no melhor horário dos domingos, vem sendo reprisado desde o início de 2020, há mais de um ano. O mesmo ocorre com o Programa Raul Gil aos sábados e o humorístico “A Praça É Nossa” às quintas.

Só os reality shows, como BBB e A Fazenda, que envolvem menos gente e são mais simples de fazer do que uma novela, têm mantido acesa a chama do entretenimento (e do faturamento comercial).

Ainda que os números de audiência das reprises sejam razoáveis e, em alguns casos, até ótimos, os problemas decorrentes da falta de programação original se avolumam.

Todas as emissoras, incluindo Band e RedeTV!, estão sofrendo nesta pandemia com queda de faturamento publicitário e a necessidade de enxugar o quadro de funcionários.

Outro problema, igualmente preocupante, é a perda de relevância do próprio meio. Sem muito conteúdo original no campo do entretenimento, os canais de TV aberta se enfraquecem diante de um concorrente cada vez mais presente, as plataformas de streaming.

É curioso observar, nesse sentido, a presença nos horários de maior visibilidade na televisão de anúncios comerciais de Netflix, Amazon, Disney, Globoplay e, mais recentemente, Paramount. Todas promovendo suas séries e filmes novos em canais que estão repletos de reprises.

O que tem mantido os canais de TV com alguma temperatura é o jornalismo. No caso da Globo, em especial, é visível como a emissora compreendeu que a tragédia da pandemia, associada à gestão incompetente do governo federal, oferece a oportunidade de transformar a cobertura num produto essencial ao espectador.

As concorrentes mais afinadas com o governo estão tendo dificuldades neste trabalho. Trata-se de missão quase impossível falar da doença sem sublinhar quem está agravando o mal.

Neste domingo (7), por exemplo, Silvio Santos mandou inserir no meio de seu programa dominical um vídeo de quatro minutos em que o ministro das Comunicações, Fabio Faria, seu genro, elogia a política de vacinação do governo Bolsonaro.

Na Record, o aspecto político da pandemia costuma ser desidratado da cobertura, dificultando a possibilidade de o espectador ter uma visão mais ampla e complexa do assunto.

Ainda sem um fim à vista, a pandemia é uma tragédia que também deixará marcas terríveis na televisão.

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