Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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'Abbott Elementary' e 'Divisão Palermo' são entretenimentos cívicos

Séries são instrumentos de conscientização embalados por diversão

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Mal começa a segunda temporada de "Abbott Elementary" (no Star +), a professora Barbara Howard festeja ter conseguido a construção de uma rampa que vai facilitar o acesso de uma nova aluna, cadeirante, à escola pública frequentada basicamente por crianças negras, na Filadélfia. Mas ela lamenta não ter sido atendida no pedido de uma mesa especial para a menina.

"Ser professor é ter que fazer o impossível todos os anos. E tudo que podemos fazer é vir trabalhar todos os dias e dar o nosso melhor", discursa a professora, vivida por Sheryl Lee Ralph. "Mas até parece que querem o nosso fracasso", responde o professor Gregory Eddie, interpretado por Tyler James Williams.

Cartaz de divulgação de série
Cartaz de divulgação da série 'Abbott Elementary' - Divulgação


Criada para a rede ABC pela atriz Quinta Brunson, que também faz uma professora na série, "Abbott Elementary" se tornou um fenômeno cultural. A primeira temporada ganhou mais de 30 prêmios, incluindo os Emmy de roteiro (para Brunson) e atriz coadjuvante (para Ralph).

Quinta Brunson com troféu pela atuação na série 'Abbott Elementary - Mario Anzuoni - 4.mar.23/Reuters


Na boa definição de Jessica Winter, da New Yorker, "Abbott Elementary" é um "empreendimento cívico", uma série cujo propósito principal é mostrar a importância do ensino público infantil e colocar em questão as muitas dificuldades no caminho dos mestres e alunos.

Apreciando o humor e o afeto que transbordam na série, seria o caso de classificar "Abbott Elementary" como um "entretenimento cívico", um gênero em alta hoje na televisão. Não é uma atração pensada originalmente como passatempo, mas sim como um instrumento de educação e conscientização embalado por diversão.

Outra série que cabe bem nesta prateleira é "Divisão Palermo" (Netflix), criada pelo ator e também diretor Santiago Korovsky. A produção argentina gira em torno da criação de uma espécie de guarda civil, formada por uma cadeirante, uma mulher trans, um anão, um imigrante boliviano, um idoso, um cego, um obeso e um judeu.

Esse esquadrão formado por "indesejáveis", como diz um personagem, é usado originalmente para fins de marketing do governo, mas acaba expondo as muitas deficiências da polícia, incluindo corrupção e ligação com o tráfico de drogas.

Tela da série 'Divisão Palermo', da Netflix
Tela da série 'Divisão Palermo', da Netflix - Reprodução


A fantasia prevalece no último episódio da primeira temporada, quando o exército de Brancaleone criado por Korovsky vira uma espécie de "Vingadores", mas as lições de civismo ao longo dos oito episódios não escondem o desejo de sensibilizar o público sobre as necessidades de pessoas diversas e minoritárias.

Um outro tipo de entretenimento cívico muito em voga nos dias atuais é o oferecido por programas que abertamente propõem alterar e reescrever o passado.

A Netflix lidera a produção neste campo. "Hollywood", de Ryan Murphy, ambientada nos anos 1940, retrata um mundo em que racismo, homofobia e machismo são superados magicamente. Já "Coisa Mais Linda", de Giuliano Cedroni e Heather Roth, passada no Brasil, nos anos 1950, é protagonizada por uma heroína feminista. Em "Bridgerton", de Shonda Rhimes, cuja história se passa no início do século 19, a rainha Charlotte e o duque galã são vividos por atores negros.


Nesta semana, a Globo estreou "Amor Perfeito", uma nova novela das 18h, baseada no clássico espanhol "Marcelino Pão e Vinho". No folhetim de Duca Rachid, Júlio Fischer e Elísio Lopes Jr., ambientado em Minas, nos anos 1930, o jovem criado por padres é negro.

Marcelino é filho de Maria Elisa Rubião, vivida por Camila Queiroz, herdeira de um rico empresário da fictícia Águas de São Jacinto, e do médico Orlando Gouveia, interpretado por Diogo Almeida.

Assim como Almeida, cerca de 50% do elenco é formado por atores negros. "A gente quer mostrar um Brasil como ele é, com os problemas todos, mas os personagens não estão lá para serem afetados pelo racismo, eles estão vivendo a vida deles", explicou Duca Rachid no lançamento.

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