Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Mauricio Stycer

Precisamos falar sobre spoilers

Espectadores se revoltam com a revelação de qualquer detalhezinho da uma série

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Alerta: este texto contém spoilers a partir da próxima frase, mas vou tentar demonstrar que, na realidade, há uma compreensão confusa sobre esse assunto.

Na semana passada, escrevi sobre a morte de Logan Roy, ocorrida no terceiro episódio da quarta temporada de "Succession". O texto causou revolta em muitos leitores, que me acusaram de um crime capital: ter dado um spoiler da série.

A palavra, como se sabe, vem do verbo "spoil", que significa estragar. Dar uma informação sobre algo ainda não visto pelo espectador, o chamado spoiler, é uma forma de estragar o prazer que ele teria ao ver o programa.

Não considero que dei um spoiler ao falar da morte de Logan. Inclusive, não coloquei nenhum "alerta" de que haveria revelações sobre a trama no texto. A equipe da Ilustrada é que, por conta própria, acrescentou um aviso antes da frase em que eu falava da morte do protagonista da série. "E quem não quiser spoilers, pode parar de ler aqui", dizia o texto incluído na Redação do jornal.

Na versão online, o suposto spoiler apareceu já no subtítulo, o que gerou mais protestos e xingamentos a mim e à Folha nas redes sociais. "Sem Logan, série perde o seu melhor: o humor que Brian Cox deu ao personagem", informava.

Firme na velha tradição de exibir apenas um episódio por semana de suas séries principais, o canal HBO mostrou a morte de Logan na noite de domingo, 9 de abril. A partir desta data, o capítulo também ficou disponível para os assinantes da HBOX Max, a plataforma de streaming da empresa.

A coluna foi publicada online na quarta-feira, 12, e saiu no jornal impresso no dia seguinte. Ora, já tendo sido oferecido e exibido para quem quisesse ver, não vejo como posso ter traído a confiança dos leitores, acusação que me foi feita por Leonilda Pereira Simões no Painel do Leitor.

O argumento principal dos que enxergam spoiler em qualquer mínima revelação sobre tramas de séries é que hoje o espectador pode assistir ao seu programa favorito na hora em que bem entender. É verdade. Mas isso cria uma situação complicada para quem escreve sobre o assunto.

Haverá, por exemplo, quem só veja o terceiro episódio da última temporada de "Succession" daqui a cinco anos. Nesse intervalo de tempo, o espectador vai considerar que dei um spoiler no jornal ao falar da ousadia do criador Jesse Armstrong.

No texto publicado na semana passada, observei também que há spoilers inevitáveis. Escrevi que quando uma série se torna um evento global, de fato, como ocorreu com "Succession", a morte do protagonista é o tipo de acontecimento impossível de ser mantido em segredo nas redes sociais ou na mídia.

Na imprensa norte-americana, incluindo sites e grandes jornais, "Succession" é tratada como o assunto mais importante da televisão no momento. Por isso, ao final de cada episódio, o "New York Times", por exemplo, publica um "recap", um texto recapitulando e resumindo o que de melhor foi exibido naquela noite.

O jornalão nem se dá mais ao trabalho de colocar um "alerta de spoiler" no início do texto. Tudo ali é spoiler, e o leitor já sabe disso. No Brasil, ainda não estamos tão acostumados com essa prática.

Por outro lado, por razões que nunca entendi, os espectadores de novelas não se importam com os sites que antecipam informações sobre capítulos ainda não exibidos.

Por aqui, apenas a sensibilidade dos espectadores de séries está à flor da pele. Uma amiga me relatou o seu drama: "Não aguento esse povo do spoiler. Tenho um amigo que se eu falo que o filme 'é bom', ele diz: 'spoiler!’" Calma, povo do spoiler.

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