Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Remakes sugerem que novelas estejam virando um fardo na Globo

Para agradar assinante, estreias acontecem na plataforma de streaming

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A Globo estreia na próxima segunda-feira (25) uma nova versão da novela "Elas por Elas", de Cassiano Gabus Mendes, exibida originalmente em 1982. A trama vai substituir "Amor Perfeito", uma história açucarada de Duca Rachid e Júlio Fischer, inspirada no romance "Marcelino Pão e Vinho", do espanhol José María Sánchez Silva, lançado em 1953.

Em janeiro, está prevista a estreia de "Renascer", um remake da novela de Benedito Ruy Barbosa, de 1993, reescrita por seu neto, Bruno Luperi. É a mesma dupla que atuou na segunda versão de "Pantanal", exibida originalmente em 1990 e refeita em 2022.

Com vistas a um futuro não muito distante, também se fala de uma nova versão de "Vale Tudo", novela original de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Basseres, de 1988, agora nas mãos de Manuela Dias.

O remake é um recurso muito comum na indústria audiovisual, utilizado tanto em Hollywood quanto nos mais variados mercados satélites, como o Brasil. Mas, nitidamente, há algo preocupante nesta onda que nos últimos tempos tomou a Globo e até alguns concorrentes.

Sim, porque no cardápio de novelas sendo refeitas é preciso incluir ainda "Dona Beija", de Wilson Aguiar Filho, exibida pela Manchete em 1986 e agora com produção a cargo da HBO.

Essa onda não tem nada a ver com nostalgia, é preciso dizer, mas com as dúvidas da Globo sobre quais rumos tomar num momento de grandes transformações da indústria.

Além da significativa audiência que costumavam dar para a emissora, as novelas diárias sempre ocuparam um espaço significativo no imaginário do público. Nos seus áureos tempos, novelas repercutiam nos jornais, causavam discussões nos bares, provocavam debates, influenciavam hábitos e tinham impacto no consumo.

Os autores da velha guarda costumavam dizer que bastava uma saída à rua, para tomar um café no botequim ou cortar o cabelo no salão, para saber se a novela estava dando certo ou não.

Por esse critério, com exceção de "Pantanal" e da recém-encerrada "Vai na Fé", de Rosane Svartman, não se pode dizer que nenhuma outra novela mais recente da Globo "pegou".

Mesmo "Todas as Flores", que a emissora temeu exibir na sua faixa principal e lançou originalmente no streaming, fez algum barulho no X (ex-Twitter), mas não deixou marca maior.

"Amor Perfeito", que termina nesta sexta-feira (22), passou em brancas nuvens. "Fuzuê", que substituiu "Vai na Fé", é uma repetição de clichês bobos. "Travessia", de Gloria Perez, sucessora de "Pantanal", foi um suplício. Nem Walcyr Carrasco, midas do Ibope, está conseguindo fazer o milagre habitual com a pouco inspirada "Terra e Paixão".

Como garantir o sucesso de uma novela? Mesmo com ferramentas científicas às mãos, como pesquisas e algoritmos, há uma grande dose de incerteza antes do lançamento de qualquer nova trama. O sucesso de uma novela ambientada fora do eixo urbano, como "Pantanal", não significa que outras tramas "rurais" farão o mesmo sucesso.

A situação se complica quando sabemos que as audiências médias hoje são muito inferiores às do passado, os custos continuam enormes e a concorrência com as plataformas de streaming é enorme.

O cenário sugere que as novelas estejam se tornando um fardo para a Globo. Por isso é mais fácil refazer novelas de sucesso do que criar novas. Mas creio que não é possível, ainda, prever mudanças substanciais na grade da emissora nos próximos anos.

Por outro lado, para agradar o assinante, a empresa tem feito a estreia de todas as suas séries originais na plataforma de streaming, só as exibindo posteriormente na TV aberta. É uma aposta que dá pistas sobre como a emissora vê o momento atual do mercado.

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