Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Série sobre Anderson Silva mostra os altos e baixos do campeão

'Anderson Spider Silva' exalta formação familiar, mas não se aprofunda sobre doping

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Assim como o longa "Mussum, o Filmis", a série "Anderson Spider Silva" expressa o esforço de apresentar a história de um grande ídolo negro no contexto de sua vida familiar.


Para recriar a trajetória do campeão de MMA, Marton Olympio comandou uma sala de roteiristas formada majoritariamente por autores negros.

O grupo se atribuiu a missão de construir uma narrativa crível, sobre uma família estruturada, que viria a dar a base necessária ao futuro lutador. Para além do desenvolvimento da trama, é um projeto que ambiciona reparação histórica.

Anderson Silva está de volta aos ringues
O lutador Anderson Silva - Divulgação

"Ninguém vincula uma família funcional a um ídolo negro", disseram os roteiristas no Instagram. "Um homem negro que ganha a vida em um octógono é visto como um corpo violento e sexualizado, jamais como pai, filho, sobrinho, irmão. Esse foi o embrião para cinco episódios e para a descoberta de personagens como tia Edith, tio Benedito, Vera, Sandra, Dayane. O lema era: dignidade".

De forma didática, no primeiro episódio, o espectador vê o tio Benedito, que o criou, defender uma ética baseada na disciplina e no autocontrole. Ele ensina a desamassar pregos velhos, pacientemente, na oficina que têm nos fundos da casa.

Mas o jovem Anderson age por impulso. Após ser chamado de "buraco negro" e "grande nada" diante da futura namorada, ele agride com socos o rapaz branco que o ofendeu.

Em casa, o tio lamenta: "Eu te dou educação para você crescer um homem de respeito e andar de cabeça erguida na rua. Nunca dei mau exemplo para ninguém aqui". Anderson é defendido pelo primo, policial: "Pai, às vezes na vida a gente tem que reagir para deixar de apanhar." E sua prima completa: "Ninguém nosso luta só".

No quarto episódio, já um lutador bem-sucedido, Anderson é convencido por um empresário a explorar a sua identidade como atleta negro. "Pra gente que é preto não basta ser o melhor. A gente tem que se destacar mais que os outros. A gente está criando uma marca forte, uma imagem poderosa, confiável, vitoriosa. Para que todo menino preto desse mundo possa ter o Spider como exemplo."

Duas acusações de doping criam ruídos ao longo do processo de construção desta imagem. Em 2015, uma luta foi anulada e, após um julgamento conturbado, Anderson foi suspenso dos octógonos por um ano. O lutador negou o uso de substâncias para o fortalecimento físico e alegou, então, ter utilizado um estimulante sexual que teria sido comprado na Tailândia.

Em 2017, antes de outra luta, Anderson foi acusado de usar substâncias proibidas. Após investigação, a entidade dos lutadores reconheceu que o atleta havia ingerido um suplemento contaminado. Ainda assim, foi suspenso por um ano —a pena máxima era de dois anos.

A forma como a série lida com esse drama, que comprometeu sua carreira e sua imagem, me pareceu confusa. Um espectador menos atento pode achar que os dois episódios se resumiram a um só. Em dois momentos, personagens dizem que Anderson foi "inocentado", o que é uma interpretação muito generosa dos fatos.

Ao contar uma história brasileira de um homem negro, creio que a série poderia ter explorado mais os conflitos ocorridos durante a longa estadia nos Estados Unidos, incluindo episódios de racismo: "Tenho minha família no Brasil. Tenho minha mãe e meus irmãos no Brasil. Mas acho que este é o meu país agora", disse ao receber a cidadania americana, em 2019.

Bem dirigida por Caito Ortiz para a Pródigo Filmes, disponível no Paramount+, a série traz um elenco de primeira nos papeis principais: William Nascimento (Anderson), Seu Jorge (Benedito), Tatiana Tibúrcio (Edith), Larissa Nunes (Dayane) e Douglas Silva (empresário).

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